MULHERES DE POMBAL

 Há algum tempo assisti a um programa sobre as mulheres de Pombal.

Onde fica Pombal? Segundo o Globo Repórter, é uma cidade nordestina. Este não foi, todavia, o dado mais importante da reportagem. Entre denúncias de pirataria e cidadania duvidosas, chamou a atenção, num dos blocos, o fato de mulheres paupérrimas serem capazes de desistir do “milagre” da bolsa-família de cinqüenta reais, tão logo conseguiram defender sua subsistência com o mínimo necessário à sobrevivência humana.

Aqui não se fala em milhões, nem da corrupção na política, nos superfaturamentos das obras para a Copa, nos caixas dois, três quatro dos empreiteiros, nem das votações estapafúrdias sobre o NADA que se seguem a elas. Fala-se de quem só quer comer uma vez ao dia, rezar e não temer a panela vazia do dia seguinte.

Confesso que me senti mal, lembrando que um ruído desconfortável na geladeira me fez trocá-la (e a nova faz um barulho diferente, mas tão irritante quanto).

Política, políticos, polícia, bandidos armados e outros, menos assumidos, armados também, isso tudo se torna pequeno diante de Deus e de sua Criação. Ele deve existir mais para essas Marias anônimas e desdentadas, que abrem mão do dinheirinho que lhes comprava o pão, em prol de quem não tem nem isso.

Essa quantia, talvez, seja um décimo da mesada de muitos jovens arrogantes, armados, que nunca precisaram dormir com fome e dificilmente conseguiriam repartir um único pão com o vizinho faminto.

“- Deus me ajude a ganhar na loteria!”; “- Deus faça passar esta cólica!”; “- Deus me ajude a passar neste concurso (sem estudar)!”. Pra mim, esses pedidos são balelas, que Deus nem ouve.

Sem atribuir méritos, mesmo devidos, a quem criou programas como o Bolsa - Família, palmas para essa gente humilde que conseguiu, com honestidade profunda, absorver a lição essencial – REPARTIR O PÃO.

O Brasil é corrupto, o mundo é corrupto, a humanidade é corruptível e Deus já deve estar desanimado das criaturas que criou.

O que nos salva são essas Marias de Pombal, capazes de renunciar ao único dinheiro recebido na vida, pela simples razão de suas poucas galinhas terem começado a pôr ovos.

Nem tudo está perdido. Amém.