E
como o banco em si não pode ser responsabilizado, por não se constituir
num sujeito, dedico minha reflexão aos banqueiros e aos mandatários das
instituições bancárias. Que fique claro que minhas críticas não se
reportam aos funcionários, à sofrida, cobrada e mal paga classe dos
bancários.
Antes
dos bancos, o dinheiro era enterrado, guardado dentro do colchão ou
disfarçado entre latas de biscoito, malas com fundo falso, bolsos
costurados, gavetas chaveadas e mil outras formas sempre criativas de
proteger aquilo que poderia garantir o sustento e o conforto das
famílias.
Não
fiz pesquisa, tampouco consultei a historiografia bancária, cito apenas
o que ouvi dizer, ou vivenciei nesses anos todos em que recebo salário
pelas aulas que ministro (ou ministrava).
Assim
como quase todos os brasileiros, recebo meu salário num banco e é lá
que deixo guardado o que sobra, quando sobra. O que me causa estranheza é
que preciso pagar para deixar lá, pagar para saber quanto tenho na
conta, pagar para usar folhas de cheque, pagar para manter um cartão
eletrônico e pagar mil outras taxas, com nomes variados, cuja finalidade
é sempre diminuir o pouco que tenho.
Como
correntista eu me sinto explorada; agora, verdadeira exploração é o que
os gerentes e mandantes das agências bancárias fazem com seus
funcionários. É de enlouquecer um cristão!
De
chegada, na reunião matinal antes de serem abertas as portas ao
público, os funcionários já recebem ordens ríspidas, metas difíceis de
atingir e ameaças bem pouco veladas.
Durante
o expediente externo são fiscalizados, controlados e admoestados caso
se demorem muito com um cliente que consumiu pouco. E devem manter o
sorriso, mesmo sabendo que olhos cruéis estão sobre si e muitas vezes
penalizados de precisar empurrar seguros, cartões, o diabo a quatro para
pessoas com pouca saúde, pouco dinheiro e quase nenhum entendimento do
que lhe é proposto.
No final do expediente vem a pior parte: o acerto de contas com as
metas não atingidas, as explicações não aceitas e novas ameaças.
O
bancário volta para casa arrasado, muitos chorando pelo caminho, a
cabeça latejando e um sonho cada vez maior de ser aprovado num concurso
público e não precisar dormir cada noite com uma arma apontada para seu
emprego.
É
claro que a família sofre também, que o estresse é repartido entre
marido, esposa e filhos e cada domingo à noite é como se precisasse se
preparar para o martírio de mais uma semana.
No
tempo da escravidão, os senhores de engenho quase não tinham contato
com os escravos. Cabia ao feitor castigá-los da forma que melhor lhe
aprouvesse, desde que os fins cobrados pelo Senhor fossem atingidos.
Na
hierarquia militar cabe ao Sargento comandar efetivamente a tropa, pois
os oficiais dão as ordens e os sargentos fazem com que os soldados as
executem a contento.
Nos
bancos, uma instituição financeira onde tudo deveria ser mais acético,
mais matemático, os gerentes são feitores e sargentos, cobrados por seus
superiores e só promovidos e condizentemente remunerados se conseguirem
fazer com que seus funcionários vendam, vendam muito, vendam tudo, sem
saber se o pobre coitado terá condições de pagar a dívida depois. Para
isso existe o setor de cobrança.
PS.: Este texto foi publicado no blog em 05/02/2011 , conforme histórico de postagens.
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