quinta-feira, 1 de março de 2012

A PONTE DA DISCÓRDIA

     Aproveitando esta minha fase sem censura, vou tocar num ponto nevrálgico para os catarinenses em geral e os florianopolitanos em particular - a ponte Hercílio Luz.
     Linda, cartão postal da cidade, referência máxima da Ilha da Magia e mil outros adjetivos, todos elogiosos e adocicados. Cantada em prosa e verso, fotografada milhares de vezes, representada em inúmeras publicações, endeusada, enfeitada, conservada a peso de ouro, em detrimento de mil outras coisas muito necessárias ao povo e sem cumprir a função primeira de uma ponte - ligar algo ou alguém de um lado ao outro.
     É claro que, mesmo vivendo aqui há quase quarenta anos, não tenho o direito de opinar, porque sou gaúcha, alegretense para ser mais exata e sem falsa modéstia. Acontece que já passei de carro pela referida ponte, já passei a pé e agora passo ao lado, com tempo de sobra para admirá-la à exaustão, nos terríveis congestionamentos durante o dia inteiro na única ponte que liga a Ilha à parte Continental. E posso adiantar que ela nem é tão bonita assim vista de perto, com as luzes apagadas; é apenas uma ponte de ferro, pênsil, antiga que esvazia os cofres públicos e enriquece empresas do mundo todo contratadas para não deixá-la cair apenas, sem nenhuma esperança de que volte a exercer o ofício das pontes, que é nos conduzir de um lado a outro.
     Valorizo o passado, tenho memória, respeito os monumentos, visito museus, gosto muito de História. O que não entendo é o porquê de se conservar, com ônus altíssimo, uma ponte já devidamente eternizada em tantos cartões postais e publicações e que teima em desabar, cansada de viver à margem de tudo e de todos, sendo frequentada há tantos anos apenas por operários e empreiteiras.
     A ponte Hercílio Luz, diferentemente da Torre Eifel, da Estátua da Liberdade ou do Cristo Redentor não foi construída para enfeitar nada e sim como algo necessário à ligação das duas partes da capital catarinense. Há muitos anos não cumpre mais este papel e a ferrugem engole vorazmente as parcas reservas do Estado, tão minguadas que nem conseguem pagar o piso salarial dos pobres professores. 
     E o que é uma ponte diante dos seres humanos e do sofrimento de tanta gente, dia após dia perdendo horas preciosas num trânsito infernal, por conta da restauração de uma ponte condenada, ao invés da construção de outra mais larga, mais moderna, que amenizasse a dureza da rotina de todos os que dependem dessa ligação para estudar, para trabalhar, para ir ao médico.
     Sou francamente favorável à implosão da ponte, como acabou de acontecer a uma similar em Ohio (USA) e à construção de outra no mesmo lugar, pois é por ali que a maioria dos bairros do Continente se liga à Ilha. Será esse um gesto muito mais convincente de patriotismo e solidariedade do que ficar mantendo a velha ponte toda remendada apenas para os turistas tirarem fotos no verão.
     Essa é a minha opinião.

2 comentários:

Dora Lucia M Dorneles disse...

Maria Luiza,é isso mesmo...essa ponte é a teta dessa gente,pena que ninguém tome uma atitude pra acabar com isso.
Como sempre,fico aqui aplaudindo o que escreves!!!
bjks

Anônimo disse...

Difícil!!mas ao referir os gastos,a coisa muda.Qta gente que poderia estar usufruindo,principalmente na Saúde,dessas verbas todas??