Cada um é como é. Pouca coisa nos é acrescentada com
a educação e a sociabilidade. A natureza é sempre mais forte, assim como uma
boa semente que, quando encontra terreno propício, boa rega, explode – para o
bem, ou para o mal. É assim que penso e minha vasta experiência com seres
humanos de todas as idades, em incontáveis salas de aula, só me fez ratificar
minha opinião.
Eu gosto de fazer as coisas uma a uma, passo a passo,
degrau por degrau. Devo ter assim um “complexo de escada”. Se não houver
organização – na vida, no tempo, na casa, na escrivaninha – sou incapaz de
produzir. Ou produzo mal, pois as coisas desordenadas me incomodam.
Acho que sou medíocre, uma vez que os gênios e os
artistas nada têm de metódicos. Mas eu sou assim, fazer o quê?
Estou lendo “As palavras andantes”, de Eduardo
Galeano, e me deliciando com a forma lúdica como ele escreve. Mal comparando,
já que os estilos são tão diversos, sua escrita me lembra Guimarães Rosa, em
“Grande Sertão: Veredas”, com aqueles neologismos maravilhosos e cheios de
sentido.
Já me considero cronista (quarenta anos de crônicas
me credenciam, imagino), estou agora ousando alguns contos e meu objetivo é
escrever um romance. Só não quero arriscar antes da hora, para não me encaixar
no que diz Galeano “uma prosa tão correta como incapaz de surpresa, onde o
leitor nunca encontra nada além do já lido”. Então vou por partes, estou muito
velha para fracassar.
Outra pérola do livro supracitado é que “o tempo
transforma os amantes em gêmeos”. Esta foi demais não acham? E faz todo o
sentido! Aquela história de se conhecerem pelo olhar, de adivinharem o que o
outro está pensando, de conhecerem todos os gostos, virtudes e defeitos – isso
não é coisa de amantes, é de irmãos gêmeos mesmo.
Bem, um dia ainda quero ser uma escritora conhecida,
uma mulher “de êxito”, mas apenas literário, porque o olhar dos vitoriosos nem
sempre me atrai.
Vejam o que diz Eduardo Galeano sobre o “homem de
êxito”.
“Não pode olhar a lua sem calcular a distância.
Não pode olhar uma árvore sem calcular a lenha.
Não pode olhar o quadro sem calcular o prego.
Não pode olhar um cardápio sem calcular as calorias.
Não pode olhar um homem sem calcular a vantagem.
Não pode olhar uma mulher sem calcular o risco.”
Sentiram?!
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