quinta-feira, 14 de julho de 2011

MAIS QUE TIJOLOS

           O que é uma casa afinal?
         Tábua, taipa, tijolos, cimento?
         Abrigo? Ostentação? Lar?
         O que faz as pessoas viverem desesperadas para possuir a sonhada "casa própria"? Medo do aluguel? Herança dos descendentes?
         Há quem se preocupe bem mais com a casa, com os móveis, os enfeites do que consigo mesmo, seu polimento humano e espiritual, sua vida.
         Há quem rompa relações afetivas e consanguíneas por conta dos tijolos empilhados por seus ancestrais.
         Nossa casa de Alegrete está quieta, solitária, muda, sempre arrumada, porque de lá saíram as vozes, os pés e as pessoas que lhe davam sentido e desorganizavam tudo para poder ser arrumado novamente. Ela está lá, as pessoas não. Hoje são apenas tijolos velhos recheados de lembranças.
        Vivendo de galho em galho, numa vida de família de militar, demoramos a ter outro canto realmente nosso. Quando o adquirimos, era um lugar aprazível, espaçoso, dividido com poucas famílias, numa rua tranquila, com pouquíssimos prédios, casas com quintais cheios de pássaros, muito sol e bastante paz.
         Naqueles longos financiamentos da classe média, onde o salário só sobe se o Governo quer, já no Outono da vida conseguimos dizer que esses tijolinhos amontoados e já pintados várias vezes são mesmo nossos e serão dos que de nós vieram.
        O destino é sempre irônico, sobrevive de rir das voltas que dá na vida da gente e agora caprichou mais uma vez.
         Este "lar doce lar", que agora é mesmo nosso, está cercado de prédios, não tem mais passarinhos, os muros altos da construção ao lado roubaram o sol, o estacionamento na rua é pago e o barulho da ganância da construção civil acabou de vez com nosso sossego.
        Mudar? Será? Terá algum lugar nessa ilhazinha dilacerada de turistas e migrantes onde ainda se possa viver em paz?
        Não fosse tão longe dos filhos e netos e eu voltaria para os velhos tijolos de Alegrete, onde os pássaros ainda cantam, a lareira é generosa e o sol chega a estorricar as roupas que se demoram no varal.
        Lá é que era bom de viver!

4 comentários:

Jeferson Cardoso disse...

Olá Maria Luiza!
Que postagem linda, quanta lembrança!
A minha casa é o lugar onde sempre quero voltar quando termino meu trabalho, gosto dos barulhos das crianças e dos barulhos da casa em funcionamento, sinto vida e alegria.
Tenha uma excelente quinta-feira!

Quero lhe convidar para ver e comentar ‘O casamento de Sarah’ no http://jefhcardoso.blogspot.com

“Que a escrita me sirva como arma contra o silêncio em vida, pois terei a morte inteira para silenciar um dia” (Jefhcardoso)

derli baltasar castagna paim disse...

Belíssima a sua crônica! Nossa casa, em Santa Maria, continua lá, firme e forte, pois minha mãe, aos 93 anos (fará 94 em setembro), recebe em seu lar, filhos, filhas, genros, noras, netos, netas, bisnetos, bisnetas, trinetos e trineta. Recebe ainda, amigas da comunidade, parentes e todos que a ela procuram, sempre para ouvir uma palavra amiga de quem com a experiência que tem, a todos auxilia no que for possível.Meus parabéns a você, pela mensagem que passa em suas crônicas. Abrçs. DPaim

Jeanne disse...

teste

Jeferson Cardoso disse...

Maria Luiza, o seu comentário é muito precioso para mim, cada comentário compõe a história de meu blog. Espero que volte para ver a continuação do conto. Um grande abraço e um excelente domingo!