terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O DIFÍCIL PERDÃO

            Dizem que errar é humano e perdoar é divino. Deve ser mesmo, pois, às vezes, é muito difícil perdoar, a não ser da boca pra fora.
           Por ter um filho da área da saúde, sou muito reticente quanto às críticas sobre erros médicos e dos profissionais da saúde em geral. Sei o quanto eles estudam, o quanto eles trabalham, o quanto são exigidos e o pouco reconhecimento que têm. Além disso, as pessoas cobram deles poderes de Deus, muitas vezes sobrenaturais, esquecendo que eles são pessoas comuns, que estudaram em colégios comuns e que se aperfeiçoaram na Medicina, ou na Enfermagem por estrita vocação.
          Infelizmente, esses profissionais, como qualquer outro de outra área, são passíveis de erros sim. De maneira geral erram muito pouco, mas erram. Assim como os engenheiros, os professores, os bancários, os comerciantes. A diferença é que seus erros repercutem mais, uma vez que atingem pessoas que já estavam em busca de saúde.
         E olha que não são os piores erros. Um professor pode destruir uma classe inteira se quiser e tiver tempo para isso, ainda mais se seus alunos forem crianças ou adolescentes, verdadeiras massas de modelar muitas vezes entregues a mãos infames ou incapazes.
          O caso do momento é a morte da menina de doze anos, a quem foi administrada vaselina ao invés de soro. Um erro grosseiro, de gente despreparada, pouco atenta, irresponsável. Certamente muitas falhas estruturais e técnicas do próprio hospital concorreram para o triste episódio, todavia não me reportarei a elas, uma vez que a imprensa já se encarregou exaustivamente de fazê-lo.
           A questão é a seguinte: - este erro tem perdão?
          Nas entrevistas, a atendente de enfermagem parecia mais abalada que a mãe da criança, entretanto, cada um demonstra seus sentimentos de forma própria e não me cabe julgar ninguém.
           Uma mãe perdeu a filha, a outra mãe perderá o sustento de seu filho e, entre elas, um pedido de perdão paira no ar.
           Homicídio doloso, ou homicídio culposo, fará diferença para quem perde um ente querido?
          Será que quando matam uma pessoa nossa sem querer ou querendo a dor pode oscilar de profundidade?
          Um pedido de perdão pode abrandar o sofrimento de alguém?
          Lembrei agora do título de uma peça de Nelson Rodrigues, do bloco das Tragédias Cariocas: "Perdoa-me por me traíres!" Coisa de mestre, de um profundo conhecedor da alma humana e suas mazelas, pois, quantas vezes a gente enseja uma traição por nossas próprias falhas? Mais uma vez, ele foi execrado na encenação da peça, dizia até que queriam assassinar seu texto a tiros, tamanha a ira ou a catarse suscitada na platéia.
           Abri este parêntese para refletir um pouco sobre este perdão, sincero ou não, genuíno ou não, aceito ou não.
           É dificil perdoar com sinceridade, do fundo da alma.
           Mais difícil ainda, para alguns, é pedir perdão.
           E você, perdoaria?

Um comentário:

Jeanne Geyer disse...

a enfermeira deveria ser perdoada, afinal vai responder criminalmente pela morte acidental da menina, não tentou fugir nem se abster de sua "culpa". Não sei se eu perdoaria, mães nesses momentos ficam irracionais...
Beijos