MEU LADO "B"

             Costumo dizer que abomino pessoas e situações que provoquem a manifestação do meu pior lado. Como não tenho vários, digo que é meu lado "B".

           As recentes ocorrências no Rio de Janeiro despertaram em mim alguns sentimentos pouco altruístas e, por vezes, bem radicais. Sentimentos incômodos para quem procura ser cristã e dar testemunho de sua fé e de sua humanidade.

          Detesto qualquer forma de covardia e, por conseguinte, os covardes. Acho que, por ter nascido pobre, ninguém tem o direito de sequestrar e matar um inocente, que não lhe fez mal algum, simplesmente porque acha cômodo ser revoltado, mesmo que não mova uma palha para mudar sua situação de forma honesta, trabalhando por exemplo.

         Perdi um irmão de dezessete anos para as drogas, para os traficantes covardes e não tenho a menor consideração por quem vive de viciar crianças e jovens para lucro próprio. Não entendo, não desculpo, não perdôo. Traficar, para mim, é um crime abominável sem direito a fiança ou defesa.

         Por isso, ao ver aquela debandada de bandidos e traficantes morro acima na TV, Deus que me perdoe, mas desejava ver um desses atiradores de elite fazendo tiro ao alvo de dentro daqueles helicópteros. E vingando cada mãe, cada pai, cada irmão que sofreu e sofre a perda de seus parentes, seja por morte em vida, ou morte mesmo.

         Sei que muitos dos meus leitores devem estar indignados, alguns talvez nem retornem, todavia eu precisava desabafar.

         E por favor, não me venham com aquele discurso surrado da miséria, porque ela não justifica bandidagem e ainda não vi nenhum traficante vendendo drogas para comprar pão, feijão ou arroz.

          Da janela acompanho uma catadora de papel revistando os sacos de lixo do prédio. Jovem, com pouquíssimos dentes, cigarro pendurado no canto da boca, shortinho, bustiã e um barrigão de uns sete meses de gravidez de fora. Certamente engravidou com a maior facilidade, não teve nenhuma intercorrência na gestação e terá um parto bem normal. Daqui a pouco andará com uns quatro ou cinco bacurinhos atrás dela, possivelmente um de cada pai e, se eles um dia acharem que vender drogas é melhor do que estudar, que assaltar um estudante é mais fácil do que trabalhar e que sequestrar um trabalhador é a melhor forma de ter tudo o que quer, se isso (previsível) acontecer, de quem será a culpa?

           Do jeito que a coisa vai, provavelmente da vítima.

          Afinal, os tais "Direitos Humanos" só valem mesmo para defender bandido!