sexta-feira, 23 de abril de 2010

VELHOS COSTUMES

               Continuando e complementando a "trilogia" saudosista (encerrando por hora também), quero aqui me reportar a um hábito antigo das famílias interioranas de fazerem visitas depois do jantar, levando toda a filharada e os ensinando a se comportar bem diante dos outros. Até visitas de pêsames as crianças faziam junto e rara era a ocasião em podiam levantar e brincar com as crianças da casa. Na maioria das vezes mantinham-se sentadas (as meninas de pernas bem fechadas), ouvindo a conversa dos adultos, bocejando e provando um biscoito na hora do cafezinho. E ai daquele que convidasse os pais para ir para casa!
                    Quando a visita era na nossa casa, ainda era chamada para tocar alguma coisa no piano, declamar uma poesia, fazer uns passos de balé. E sem muxoxo!
                   Ao sairmos, eu tinha que ir de mãos dadas com meu irmão Tibério pelas ruas, mesmo que tivéssemos passado o dia brigando. Dadinho, porque era o menor, ganhava colo de vez em quando. E sempre arrumados, limpos, como parte de uma tradição que jamais se extinguiria.
                    Qual o quê!

                    Já imaginaram, hoje, um pai e uma mãe convidarem os filhos para fazer uma visita aos amigos deles (dos pais), depois do jantar, bem arrumados e com paciência para ficar horas sentados, ouvindo sem interromper a conversa dos adultos?

                     Analisemos por partes:
- o pai e mãe juntos para um programa com os filhos já não é muito comum. O que mais se vê é um jogo de empurra para ver quem cuida das crianças.
- amigos dos pais não dizem o menor respeito aos filhos e eles jamais "perderiam tempo" visitando gente que eles nem sabem quem são.
- visita depois do jantar é abstrato. O que é visita? E o que é jantar? Seria aquele sanduíche, salgadinho ou pizza comido diante da TV quase sem sentir?
- bem arrumados como? Bermudão, tênis e moleton só muda de cor.
- paciência. O que é isso? Só procurando no Google.
- horas sentado? Nem na aula! Sai fora!
- ouvindo sem interrromper a conversa dos adultos, aí já tirando sarro né? Que mané conversa de adulto? Quem vai querer ouvir essas baboseiras que eles falam? A gente fala o que quer e quando quer. E , se não escutarem, a gente grita, esperneia, puxa, dá chutes, até que nos ouçam e façam o que estamos querendo.

                Pois é, os tempos mudaram mesmo.
                E olha que ainda nem cheguei na "melhor idade".
                Naquele tempo, quem mandava na casa era o pai, depois a mãe. Hoje é o filho, depois o filho de novo e ainda o filho.
                Bem, eu procurei preservar as coisas boas do meu tempo na educação dos meus filhos. E agora dos meus netos também. Amo, adoro, dou muito mimo e carinho, mas não transijo nas coisas fundamentais , nem deseduco, ao contrário, sou mais rígida que os próprios pais deles.
                 Ainda sim, eles só querem estar comigo, confiam em mim, se sentem seguros ao meu lado. Sinal de que nem tudo mudou pra melhor!

Um comentário:

Edson disse...

Em velhos costumes, gostei do termo sem muxoxo. Concordo com você, quando fala dos princípios fundamentais, que não dá para abrir mão disso. Sempre que posso gosto muito de ler teus contos. Forte Abraço.