Para minha amada netinha Bruna, cuja semelhança com a personagem não é mera coincidência.
A MENINA DO “NÃO”
- Não quero!
- Não gosto!
- Não vou!
- Não sei de
nada!
Era assim que
Bruna experimentava seus poderes.
Gostava de ver
a cara dos outros quando caprichava nos seus “nãos”.
- Vamos tomar
banho? Convidava a mamãe.
E ela:
- Não!
- Vamos almoçar?
Dizia a vovó.
E a pequena
teimosa:
- Não quero!
- Bruna, vem
comer frutas! Chamava o papai.
E a danadinha
gritava:
- Não gosto!
Até a bisavó
tentava ajudar:
- Bruninha,
vamos brincar de bonecas?
- Não! Não vou
brincar disso!
Na escola, a
professora avisava:
- Agora está na
hora de guardar os brinquedos!
E a pequena
teimosa:
Não vou
guardar! Quero continuar brincando.
Na aula de balé
as colegas pediam:
- Bruna, posso
dançar ao teu lado? Vem dançar com a gente!
Mas ela não
aceitava o convite:
- Não! Não
gosto de dançar com vocês!
Assim passavam
os dias, sempre com Bruna teimando e desobedecendo todo mundo só pra ver as
pessoas contrariadas, ou bravas com ela.
Um dia... de
manhã cedinho Bruna pulou da cama e resolveu dar um passeio sozinha no bosque
que ficava perto da sua casa.
Aproveitou que
a família estava tomando café na cozinha, abriu a porta devagarzinho e saiu.
Logo avistou um
bando de bentevis fazendo algazarra no jardim.
Sua cachorrinha
Pitty ficou espiando assustada no portão. Ela então chamou baixinho, pra
ninguém escutar:
- Vem Pitty,
vamos passear!
A cachorrinha
sacudiu a cabeça e entrou em casa, recusando-se a acompanhá-la.
Bruna sacudiu
os ombros e pensou:
- Deixa essa
boba ficar, eu vou sozinha!
Mais adiante,
encontrou seu primo Lucas jogando bola com os amigos e perguntou:
- Quer ir
passear no bosque comigo?
E o menino:
- Não! Vou
ficar aqui.
Bruna continuou
seu passeio em direção ao bosque.
No caminho, viu
uma menina comendo algodão doce e se lembrou que não comera nada. Arriscou:
- Me dá um
pedacinho? Estou com fome.
E a menina de
cara feia:
- Não! É meu.
A pequena
teimosa entrou no bosque e caminhou no meio daquelas árvores enormes. Encontrou
o parquinho aonde viera tantas vezes com seu pai, mas não achou graça ao sentar
no balanço parado.
Avistou uma
mulher varrendo e pediu:
- Me embala um
pouquinho?
A mulher
respondeu:
- Não! Estou
ocupada.
Bruna já não
estava tão feliz e decidiu voltar para casa. Caminhou para um lado e não achou
o portão. Viu um coelho apressado e perguntou:
- Seu Coelho, a
saída é por aqui?
E o coelho, sem
parar de correr:
- Não!
Um pouco
assustada, correu para o outro lado. Ia passando uma tartaruga bem devagar. Com
uma voz chorosa Bruna chamou:
- Dona
Tartaruga, este é o caminho da saída?
A tartaruga
enfiou a cabeça dentro do casco e gritou:
- Não!
Bruna achou que
ia chorar. Estava cansada, com fome e com saudade dos seus pais. Enxergou,
então, um macaquinho que pulava ligeiro, de galho em galho. Gritou para ele:
- Macaquinho,
por favor, me ensina a sair daqui!
E o macaco,
balançando nas árvores;
- Não! Não!
Não!
A menina então
sentou numa pedra e começou a chorar.
De repente,
ouviu uma voz que a chamava bem baixinho:
- Bruna! Bruna!
Bruna enxugou
os olhos e olhou para o lado de onde vinha a voz.
Uma estrela
cheia de brilho estava no gramado e, dentro dela, num lindo vestido rosa, uma
fada risonha, com uma varinha de condão, olhava para ela.
- Por que você
está chorando? perguntou a voz doce.
- É porque eu
quero voltar para a minha casa e não acho a saída, respondeu a menina.
A fada, então,
chegou perto dela e disse:
- Você escutou
muitos “nãos” por aqui, não é mesmo?
- É, disse
Bruna, ninguém quis me ajudar.
- E você ficou
triste ouvindo todos aqueles “nãos, com certeza.
- É, fiquei,
concordou a pequena.
- Pois é,
continuou a fada, é assim que seus pais, sua avó e sua professora ficam quando
você diz tantos “nãos” para eles.
- Agora, se
você me prometer que vai obedecer e concordar com as pessoas que lhe querem
bem, eu ajudo você a voltar para casa.
- Eu prometo!
disse a menina.
- Ah, continuou
a fada, e não saia mais sozinha! É muito perigoso e seus pais não podem
ajudá-la se não souberem aonde você está.
Bruna baixou a
cabeça envergonhada e pediu novamente:
- Me ajude a
voltar para casa, por favor!
A fada, então,
sacudiu a varinha fazendo uma nuvem de brilho sobre a cabeça da menina.
- Feche os
olhos! Ordenou.
Bruna fechou os
olhos e sentiu que estava voando.
Num minuto
chegou à sua casa e foi colocada bem em cima da sua cama, antes mesmo de perceberem
que ela havia saído.
Em seguida,
ouviu a voz da mamãe chamando:
- Bruna, vem
tomar café!
- Já vou mamãe!
E o papai
perguntando:
- Quer mais um
pedaço de bolo?
- Sim papai.
Dali a pouco a
vovó chegou e propôs:
- Bruninha,
vamos aprender a escrever seu nome?
- Está bem
vovó, eu vou!
A família se
olhou surpresa, feliz com a mudança na menina e nem percebeu quando Bruna
abanou para uma estrelinha brilhante que se afastava no céu.
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