Já
tentei estratificar os seres humanos de diferentes formas. Primeiro achei que
nossa vida era circular, que as pontas acabavam se tocando novamente. Depois,
encontrei mundos paralelos correndo sem se tocar, totalmente independentes e distintos.
Fiz também a conhecida pirâmide social e agora tento novamente identificar a
forma das minhas atuais concepções sobre esse ser tão complexo e esquisito que
se chama homem, humanidade, pessoas.
No
mesmo planeta, no mesmo Continente, no mesmo país, no mesmo estado, na mesma
cidade, no mesmo bairro, na mesma rua, no mesmo prédio existem pessoas
absolutamente distintas, como se pertencessem a outro mundo bem diferente do
nosso. Diferenças abissais de concepção de mundo, de modo de viver, de se
comportar, de reagir coabitam inclusive na mesma família e quiçá na mesma casa.
Estendendo
um pouco a régua encontramos pessoas que fazem tudo certinho, pagam suas
contas, rezam, respeitam o semelhante, cuidam do planeta e dos animais vivendo,
ao mesmo tempo e às vezes até com certa proximidade, com pessoas totalmente ao
contrário, desonestas, mal educadas, agressivas, relaxadas.
Já
parou para pensar que no seu mundo vivem pedófilos, assassinos, traficantes,
corruptos, gente capaz de matar por qualquer coisa, de abusar e espancar
crianças, de judiar de idosos, de torturar, sequestrar, maltratar animais, de
jogar lixo nas ruas, nos bueiros, nas calçadas?!
Como
uniformizar a vida na terra se existem diferenças abissais entre os seres que a
habitam? Como governar para todos se existem milhares nesse todo com objetivos
e valores tão díspares?
O
sol nasce pra todos, a chuva cai em todos os lugares, a natureza não faz
distinção e abriga o bom e o mau, o justo e o transgressor. As grandes
calamidades naturais, inclusive, costumam atingir os bons; nunca se viu, por
exemplo, um terremoto, uma avalanche, uma enchente destruindo presídios de
segurança máxima ou morros apinhados de bandidos.
Você,
que está lendo esse texto agora, certamente está num lugar seguro, tem boa
índole e nunca fez mal a ninguém. Pois bem perto de você pode estar gente
completamente diferente, até de expressiva beligerância e periculosidade, gente
que só espera uma oportunidade de enganar alguém, ou fazer mal aos outros. E
convivemos tão próximos, sem chances de criar um mundo ideal, onde só pessoas
como nós, com os nossos valores e as nossas atitudes pudessem se avizinhar.
Não se trata de estratificação social, nem de
considerar saldos bancários de ninguém. A pior diferença entre esses mundos
está no caráter, na covardia de quem mata, maltrata, assalta, estupra, polui.
Seria
muito bom se a gente pudesse criar um mundo à parte, onde esses maus só
pudessem conviver entre eles e fazer as suas maldades com os seus iguais.
No
outro mundo, as crianças poderiam andar tranquilas e seguras nas ruas, os
velhinhos também, os animais teriam casa, carinho e comida, nenhum homem
mataria a mulher que não lhe quer mais, ninguém brigaria no trânsito, o lixo
seria reciclado e reaproveitado, nada de drogas, nada de armas e livros em
profusão!
Este
seria o mundo ideal. Utopia? Certamente. Mas sonhar, pelo menos, ainda é
permitido.
Um comentário:
Gostei da crônica, adorei "abissais".
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