Já cantei em verso e prosa as agruras e dissabores do envelhecimento,
até porque eu os sinto dia após dia.
Hoje, no entanto, quero ser justa e nomear algumas melhorias
que advém com o passar do tempo.
Sem sombra de dúvida, a maior vantagem de todas é o
amadurecimento. Pena que algumas pessoas morram de velhas sem amadurecer,
eternamente com reações adolescentes, com fixação na juventude (e por isso
mesmo à beira do ridículo), reagindo a tudo com ímpeto infantil, fazendo birra,
recusando-se a rever conceitos e a se adaptar. Chamem a isso de personalidade,
eu prefiro o termo imaturidade.
Outra grande vantagem do passar do tempo é a de finalmente nos
libertarmos da escravidão do relógio. Muitos até deixam de usar aquela corrente
afivelada ao pulso que norteou nossos passos durante toda a vida produtiva. Que
fique claro que continuamos produzindo, agora apenas para nós e para a nossa
família, ao invés de obedecer às ordens e exigências de um patrão, ou do
mercado.
É bem verdade que temos menos sono, entretanto, acordar
pensando no que faremos naquele dia, sem susto, é bem diferente do som
estridente do despertador, nos chamando aos gritos para mais um dia igual a
todos os outros, para o qual estamos sempre atrasados, correndo, numa correria
insana e despropositada.
Saborear a comida e os beijos e conversas dos netos, prestando
realmente atenção no que se come e no que vemos e ouvimos, dando importância às
pequenas queixas, esclarecendo dúvidas, acalmando as tempestades, fazendo
cafuné, tudo o que mal tivemos tempo de fazer com nossos filhos, pela pressa constante
em resolver mil coisas, muitas delas desnecessárias e menos importantes.
É useiro e vezeiro se dizer que o ideal seria um corpo jovem
numa cabeça madura e essa realmente seria a fórmula da perfeição. A agilidade e
a força dos vinte, trinta anos, na cabeça dos sessenta, setenta e estaríamos a
dois passos do paraíso.
Tempo para se fazer o que gosta, ler, escrever, tricotar,
tocar um instrumento, pintar, costurar, plantar, viajar, enfim, aquilo que sempre
pretendemos fazer e nunca tivemos tempo suficiente, essa é outra grande
conquista da maturidade.
Eu escrevo desde os quinze anos, publicando na Gazeta de
Alegrete. Escrevo por uma necessidade vital, assim como comer e dormir. Tão
logo me aposentei comecei a organizar e publicar meus livros. Em sete anos de aposentadoria
tenho dez livros solo publicados, fora as incontáveis antologias que guardam
textos meus.
Por tudo isso – e incontáveis pequenas e grandes coisas mais
– não é de todo ruim envelhecer, tem seus encantos, desde que não travemos uma
luta inglória contra o tempo e não passemos o tempo que nos resta a nos
lamentar.
Tenho acompanhado o desabrochar de cada florzinha, cada
pimenta no meu pequeno jardim e isso pode parecer quase nada, quando na verdade
representa um tempo de olhos de ver, ouvidos de ouvir e boca de calar.
Aproveitemos!
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