Não é nas academias que os seres
humanos se transformam em "fortes". Um monte de músculos pode até
proporcionar força física, entretanto, para suportar certas pedreiras da vida
são insuficientes.
Com
certeza, todos vocês já ouviram falar nos "pintores com a boca e os
pés". Já devem ter recebido seus lindos cartões e espero que tenham
contribuído para que um projeto dessa grandeza tenha continuidade.
Há muitos anos só envio cartões deles e não faço nenhum favor, pois são de
altíssima qualidade. Mesmo acompanhando seu trabalho há bastante tempo, não
canso de admirar aquelas pessoas, aqueles artistas que chegaram à enésima
categoria de superação. São casos incríveis, como o de uma jovem que teve
poliomielite aos dois anos e vive há quase trinta num hospital, vinte e quatro
horas por dia ligada a um aparelho respiratório, paralisada do pescoço para
baixo e pintando maravilhas com
a boca.
A
carta que recebi desta vez, acompanhando os cartões, foi escrita com o pé por uma jovem que
tem os braços paralisados, o que não a impediu de se formar em duas faculdades.
E que bonita letra!
Esses
pintores são, para mim, o maior caso de superação que eu conheço, uma vez que
não se limitam a viver - o que já não é fácil - mas ainda querem aprender,
produzir.
Meu
pai tinha, além da família, duas grandes paixões na vida: ler e pilotar. Aos
oitenta e cinco anos ficou cego, quase de repente. E nunca mais pode ler, nem
pilotar. Nessa idade, fica muito difícil aprender coisas novas, mas ele tentou
fazer datilografia numa máquina adaptada, pelo menos poderia escrever, outra
das suas habilidades. Cidade pequena, pouco avanço nessa área, grande
limitações. Só que ele amava falar de aviões, comentar coisas "de fundamento",
ouvir boas histórias. Infelizmente, muitos dos seus amigos nunca foram vê-lo e
dar a ele alguns momentos de satisfação, porque não queriam vê-lo naquele estado.
Será covardia? Será
apenas uma desculpa? Será pura omissão?
Não sei. Nunca vou saber, pois meu pai já morreu.
Agora, ele foi uma fortaleza, quase sem se queixar abdicou de tudo o que mais
gostava e dava profundos suspiros ao ouvir os roncos dos aviões passando no céu
e à falta da conversa interessante de muitos dos seus companheiros.
Penso
que, se eles são fortes para resistir, para enfrentar imensas dificuldades, nós
temos obrigação de, pelo menos, apoiá-los, prestar nossa solidariedade, ou
teremos bem pouco de humanos.
Para
mim, esses são os fortes de verdade!
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