Em tempo de filhos únicos, cabe uma reflexão sobre o que
significa ser irmão, pertencer à mesma família, crescer no mesmo lar.
Os pais modernos justificam o único filho pela dificuldade
da vida, pela necessidade de investir na carreira, pelo desejo de dar a este
filho, ou filha, todas as oportunidades que muitos não tiveram. E acrescentam
que primos e amigos suprem com folga a presença de irmãos. Será?
Curioso é que nas favelas, entre as pessoas sem condições de
criar nenhum filho, frutos, muitas vezes, de encontros ocasionais e
irresponsáveis, as crianças continuam tendo muitos irmãos, casa cheia,
companhia, aprendizado para o bem e para o mal.
Outra modernidade é o fato dos tais “meio-irmãos”, filhos de
casamentos anteriores dos pais e uma denominação completamente ridícula, uma
vez que são pessoas inteiras e não pela metade, portanto, são irmãos completos
e, não raras vezes, ainda mais afinados uns com os outros do que aqueles
nascidos do mesmo pai e da mesma mãe. O simples fato de não precisarem disputar
o amor da mãe, ou do pai, já os aproxima.
Existem irmãos que vivem em família pela vida toda,
encontrando-se com frequência, criando os filhos junto, viajando com as
famílias, apoiando-se, consultando sempre que preciso, sofrendo e comemorando
unidos, cuidando junto dos pais. Esses são os melhores, os admiráveis, os
invejáveis!
Outros, a gente sabe que estão por ali, que podemos pedir
auxílio a eles se precisarmos, não sem antes realizarmos um histórico completo
das mágoas da infância e das injustiças que um ou outro pensam ter sofrido.
Há o queridinho do mãe, a princesinha do pai, o mimosinho da
avó e por aí vai. Mimos que, às vezes, acirram disputas e afastam as crianças.
Comentários familiares, na maior parte das vezes provenientes das novas pessoas
agregadas à família, que criam e incitam desavenças, fomentando ciúmes e
disputas, o que é sempre lamentável.
Existem amigos que
valem mais do que os irmãos, porque uma carga genética, ou um DNA não suprem as
ausências, as omissões, a indiferença. Amigos são irmãos escolhidos, um
verdadeiro tesouro para ser guardado com carinho e cuidado pela vida toda.
Irmãos são uma
bênção, uma alegria compartilhada na infância, uma torcida pela vida afora,
alguém que partilhou tudo desde pequenos, dividiu quarto, comida, lazer, abraço
dos pais, viagens, dificuldades, alegrias, enfim, uma vida multiplicada que
deveria ser mantida pela vida afora, não fossem as influências, os palpites, a
ambição, a desconfiança, a ganância, o ciúme.
Quando os irmãos
são amigos, ficam felizes os pais, pois entendem que acertaram, que conseguiram
ser justos, que fomentaram a cumplicidade e o afeto verdadeiros. Do contrário,
sofrem os pais, porque não há pai ou mãe que aprecie uma disputa, ou
hostilidades entre os filhos que gerou e colocou no mundo.
A vida é breve,
passa rápido demais. Criar filhos dá muito trabalho, muita despesa, muita
responsabilidade. Corajosos os casais que encaram aumentar a família para dar
irmãos aos filhos (alguns, na verdade, fazem várias tentativas, sem êxito).
Inteligentes os filhos que souberem valorizar esta parceria, esse laço tão
forte e fazer dele um nó de amor para sempre.
Olhe com mais
ternura para aquele que tem traços físicos e de personalidade parecidos com os
seus e que partilha da mesma memória e da mesma saudade.
Abrace seu irmão!
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