Quero aqui me reportar a um hábito antigo das famílias
interioranas de fazerem visitas depois do jantar, levando toda a filharada e os
ensinando a se comportar bem diante dos outros. Até visitas de pêsames as
crianças faziam junto e rara era a ocasião em podiam levantar e brincar com as
crianças da casa. Na maioria das vezes mantinham-se sentadas (as meninas de
pernas bem fechadas), ouvindo a conversa dos adultos, bocejando e provando um
biscoito na hora do cafezinho. E ai daquele que convidasse os pais para ir para
casa!
Quando a visita era na nossa casa, ainda era chamada para tocar alguma coisa no
piano, declamar uma poesia, fazer uns passos de balé. E sem muxoxo!
Ao sairmos, eu tinha que ir de mãos dadas com meu irmão Tibério pelas ruas,
mesmo que tivéssemos passado o dia brigando. Dadinho, porque era o menor,
ganhava colo de vez em
quando. E sempre arrumados, limpos, como parte de uma
tradição que jamais se extinguiria.
Qual o quê!
Já imaginaram, hoje, um pai e uma mãe
convidarem os filhos para fazer uma visita aos amigos deles (dos pais), depois
do jantar, bem arrumados e com paciência para ficar horas sentados, ouvindo sem
interromper a conversa dos adultos?
Analisemos por partes:
- o
pai e mãe juntos para um programa com os filhos já não é muito comum. O
que mais se vê é um jogo de empurra para ver quem cuida das crianças.
- amigos
dos pais não dizem o menor respeito aos filhos e eles jamais
"perderiam tempo" visitando gente que eles nem sabem quem são.
- visita
depois do jantar é abstrato. O que é visita? E o que é jantar? Seria aquele
sanduíche, salgadinho ou pizza comido diante da TV quase sem sentir?
- bem
arrumados como? Bermudão, tênis e moleton só muda de cor.
- paciência. O que é isso? Só
procurando no Google.
- horas
sentado? Nem na aula! Sai fora!
- ouvindo
sem interromper a conversa dos adultos, aí já tirando sarro né?
Que mané conversa de adulto? Quem vai querer ouvir essas baboseiras que eles
falam? A gente fala o que quer e quando quer. E , se não escutarem, a
gente grita, esperneia, puxa, dá chutes, até que nos ouçam e façam o que
estamos querendo.
Pois
é, os tempos mudaram mesmo.
E olha que ainda nem cheguei na "melhor idade".
Naquele
tempo, quem mandava na casa era o pai, depois a mãe. Hoje é o filho, depois o
filho de novo e ainda o filho.
Bem,
eu procurei preservar as coisas boas do meu tempo na educação dos meus filhos.
E agora dos meus netos também. Amo, adoro, dou muito mimo e carinho, mas não
transijo nas coisas fundamentais , nem deseduco, ao contrário, sou mais rígida
que os próprios pais deles.
Ainda sim, eles só querem estar comigo, confiam em mim, se sentem seguros ao
meu lado. Sinal de que nem tudo mudou pra melhor!
2 comentários:
Sempre teus textos tão claros,com a delicada,de resolvida postura:coisas que o tempo determina em quem sempre procurou ser aprendiz,são tão bom de ler!
Caríssimo "anônimo", se der, coloque seu nome no final do comentário para eu poder saber quem foi o gentil leitor.
E volte sempre!
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