Se
é que existe realmente uma distinção de classes sociais na espécie humana,
penso que a "primeira classe" é bem mais sem graça que a segunda,
porque uniforme, imitadora, globalizada, sem acentos regionais, podendo
pertencer a qualquer país, desde que preencha alguns requisitos como: falar
inglês e francês; usar grifes mundialmente famosas; possuir um closet repleto de roupas e
sapatos assinados e por aí afora, numa lista imensa de futilidades que me canso
até para enumerar.
Já a
"segunda classe" é muito mais divertida, peculiar, representativa,
genuína. E amplamente menosprezada por aqueles que se julgam num degrau acima
do resto da humanidade.
Vejam
o caso dos nordestinos pobres, por exemplo. Criados no sol, no calor, com pouquíssima
roupa e precisando abandonar sua terra e sua gente para vir trabalhar no sul,
onde há, pelo menos, subempregos. Aqui se submetem ao frio, ao deboche, às
agressões verbais, como se fossem mesmo cidadãos de segunda classe.
Em
contrapartida, pessoas de todas as regiões do país, principalmente do Sul e
Sudeste, viajam sistematicamente ao Nordeste, em busca das praias de águas
mornas, dos frutos do mar, dos forrós, das festas juninas, das danças típicas.
Só gostariam de poder tirar o povo de lá, apossando-se da terra também, como
patrimônio das regiões mais ricas e menos ensolaradas.
O
Nordeste é lindo, quente, alegre e não deve nada às demais regiões, mais ricas,
de temperaturas negativas, onde as roupas grossas, bons vinhos, chocolates, fondues e churrascos são
reservados apenas à primeira classe.
Ser
pobre no sul do Brasil é duas vezes mais triste, porque passar fome num frio de
rachar dói ainda mais.
Por
isso, essa imaginária divisão de classes é ainda mais ingrata para os sulistas.
Uma coisa é passar fome estendido numa praia de areias quentes, com coqueiros à
vontade e peixes na rede; outra é se encolher debaixo de um viaduto ou sob
marquises, deitado em papelões, ouvindo o roncar das próprias tripas.
Para
uma humanidade que sabe o quanto a vida é efêmera e que ninguém consegue
comprar o adiamento da morte, há orgulho demais por aí...
Ao
invés de separar os homens em classes, que tal tratar melhor da classe
"humana"? Hein?!
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