domingo, 14 de dezembro de 2014

SAUDADE




                  Só nossa amada – e assassinada – língua portuguesa tem uma palavra para designar esse sentimento forte, bom e ruim ao mesmo tempo.
                  Só sentimos saudade do que foi bom, foi significativo, atingiu nossa sensibilidade.  Por isso é tão comum nos tacharem de saudosistas, quando gostamos de recordar um tempo de menos compromissos, menos decepções e muito mais sorrisos.
                  Há os que afirmam viver o presente apenas e, no máximo, espichar um olho para o futuro. Dizem que o que passou, passou e que não vivem de recordações.
                 Por outro lado, existem pessoas que se fixam no passado, deixando de viver o presente e sem o menor interesse no que ainda está por vir.
                  Eu procuro ser saudosista na medida certa, como se pudesse mandar na minha saudade... que, de repente, por qualquer pequeno detalhe, destapa um pote mágico de belas recordações e me inunda de sentimentos fofos, cálidos, brilhantes.
                 Uma essência qualquer me conduz às trilhas, no meio do mato, da nossa Iraí, onde minha família passava as férias na estação de águas e eu caminhava de manhãzinha com meu pai, antes mesmo do café da manhã, enchendo os pulmões daquele ar puro e terminando a caminhada com copos de água mineral no Balneário.
                  Ainda hoje, quando quero acordar os filhos e netos, repito a voz de comando do meu pai na soleira da porta: - “ossos de ponta!”
                   E, quando patrocino alguma mordomia para a gurizada, não há como não lembrar dele, chegando em casa quase ao meio-dia, na época de férias escolares e nos vendo tomar café na cama. Sempre sacudia a cabeça e reclamava com a mãe: “são mesmo uns lordes arruinados!”
                  Um pai que achava que mulher tinha que ser valente e me fazia ir, no escuro, até o fundo do pátio à noite.
                  Um pai que não valorizava serviços domésticos, segundo ele porque qualquer mucama fazia até melhor, mas que exigia estudo, cultura, leitura, atualização. Mesmo assim, adorava minhas realizações culinárias, especialmente os bolinhos de chuva e os cobrava já nos primeiros pingos d'água, com bastante açúcar e canela.
                  Um pai que exigia “conversas de fundamento” à mesa, que detestava fofoca e disse-me-disse e que falava sempre, que quando não tivéssemos nada de bom para dizer de uma pessoa, então não disséssemos nada.
                  Como não sentir saudade de um pai honesto até a medula, idealista, patriota, que torcia para ver as mulheres brilhando em todas as áreas, profundamente apaixonado pela esposa e um pai presença, segurança e companheirismo para os filhos?
                Sinto muita falta dele. Lembro dele todos os dias e tenho, sim, saudade dos anos que passamos juntos, das nossas conversas, dos nossos silêncios, dos nossos desabafos, das nossas caminhadas, das nossas risadas. Para isso, a melhor palavra, a que melhor define o que meu coração sente não pode ser outra, é mesmo SAUDADE.






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