Transcrevi, por que eu poderia assinar junto, uma vez que concordo plenamente.
“QUERIDO PAPAI NOEL
Em mais este natal cristão, dê um presente ao meio cultural
brasileiro fazendo com que:
- A disciplina de
interpretação de texto se torne diária em todas as escolas, de preferência em
aulas longas e sem direito de ir ao banheiro.
- Deixem Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Caio Fernando Abreu
em paz.
- Parem de identificar
sucessos de bilheteria (e de vendas) com qualidade estética.
- Resenhas se abstenham de contar três terços dos livros.
- Um único
funcionário das livrarias de aeroporto, e também o dono que os contrata e
orienta, e também o público que frequenta o ambiente e endossa com suas compras
tristes a seleção de títulos das gôndolas e prateleiras, tenham algum resquício
de gosto literário.
- Escritores parem de explicar a própria obra com conceitos
que não são seus, e sim de alguma patrulha política, de gênero ou de
departamento acadêmico.
- Críticos evitem comentar livros de desafetos pessoais ou
desafetos da namorada.
- Autores consigam se controlar e não respondam aos críticos.
Entendo o impulso de provar superioridade intelectual, moral e – em casos raros
– física, mas a melhor forma de fazer isso é com silêncio público e amargura
que estraga a vida familiar.
- Volte a ser possível esquecer da existência de alguém, em
vez de ser lembrado dela em links, retuítes e até posts na página de quem
morreu.
- Volte a ser
possível fazer ironia sem precisar explicá-la com reticências, pontos de exclamação
e emotions.
- Volte a ser possível ser contestado sem acusar o
contestador de baixar o nível da discussão.
- Acabe o culto intelectual às estatísticas e ao que dizem “pesquisas
recenbtes”.
-- Alguém explique por que tanta gente, deixando claro que
paira acima da vulgaridade, passa o dia no Twiter comentando Faustão, “The
Voice Brasil” e a passagem de Francisco Cuoco e sua namorada pelo castelo da
Caras.
- E também por que alguém vai a um show apenas para registrar
a performance do artista no celular, revendo-a mais tarde – se é que vai rever –
numa tela pequena e com qualidade medonha de som e imagem.
- Não exijam de artistas que tenham opinião sobre tudo. Artistas
têm o direito de ser omissos, alienados, incoerentes e burros.”
MICHEL LAUB
Folha de São Paulo
06/12/2013.
Um comentário:
Muito bom ! Elizabete
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