terça-feira, 10 de dezembro de 2013

QUERIDO PAPAI NOEL



Transcrevi, por que eu poderia assinar junto, uma vez que concordo plenamente.

“QUERIDO PAPAI NOEL



Em mais este natal cristão, dê um presente ao meio cultural brasileiro fazendo com que:



- A disciplina de interpretação de texto se torne diária em todas as escolas, de preferência em aulas longas e sem direito de ir ao banheiro.

- Deixem Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Caio Fernando Abreu em paz.

- Parem de identificar sucessos de bilheteria (e de vendas) com qualidade estética.

- Resenhas se abstenham de contar três terços dos livros.

- Um único funcionário das livrarias de aeroporto, e também o dono que os contrata e orienta, e também o público que frequenta o ambiente e endossa com suas compras tristes a seleção de títulos das gôndolas e prateleiras, tenham algum resquício de gosto literário.

- Escritores parem de explicar a própria obra com conceitos que não são seus, e sim de alguma patrulha política, de gênero ou de departamento acadêmico.

- Críticos evitem comentar livros de desafetos pessoais ou desafetos da namorada.

- Autores consigam se controlar e não respondam aos críticos. Entendo o impulso de provar superioridade intelectual, moral e – em casos raros – física, mas a melhor forma de fazer isso é com silêncio público e amargura que estraga a vida familiar.

- Volte a ser possível esquecer da existência de alguém, em vez de ser lembrado dela em links, retuítes e até posts na página de quem morreu.

- Volte a ser possível fazer ironia sem precisar explicá-la com reticências, pontos de exclamação e emotions.

- Volte a ser possível ser contestado sem acusar o contestador de baixar o nível da discussão.

- Acabe o culto intelectual às estatísticas e ao que dizem “pesquisas recenbtes”.

-- Alguém explique por que tanta gente, deixando claro que paira acima da vulgaridade, passa o dia no Twiter comentando Faustão, “The Voice Brasil” e a passagem de Francisco Cuoco e sua namorada pelo castelo da Caras.

- E também por que alguém vai a um show apenas para registrar a performance do artista no celular, revendo-a mais tarde – se é que vai rever – numa tela pequena e com qualidade medonha de som e imagem.

- Não exijam de artistas que tenham opinião sobre tudo. Artistas têm o direito de ser omissos, alienados, incoerentes e burros.”



 MICHEL LAUB

Folha de São Paulo

06/12/2013.




Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom ! Elizabete