Hoje de manhã cedinho, ao abrir a
janela do quarto recebi uma visita inusitada. Sim, inusitada, pois já não é
comum receber uma visita dessas, num apartamento cercado de prédios, barulhos,
carros.
Equilibrando-se
mansamente na vidraça estava uma linda borboleta de listras pretas e amarelas,
que abria e fechava as asas lentamente, como a se olhar no espelho e se sentir
bonita.
Depois
de reverenciá-la como a um fóssil vivo, chamei Bruna e Lucas para admirá-la,
assim como a gente faz com animais e coisas raras.
E
se tratava apenas de uma borboleta. A que ponto chegou!
Uma
coisa puxa a outra e logo aterrissei lá na minha cidadezinha, de uniforme
curto, idéias longas e sorriso frequente.
No
jardim da nossa casa as borboletas eram abundantes. De todas as formas e cores.
Naquele mesmo jardim argumentei muitas vezes com minha mãe e minha avó acerca
dos meus "pretendentes". Elas não se conformavam que eu tivesse tanta
predileção pelos "Zé ninguéns", aqueles de famílias desconhecidas,
pouco dinheiro e nenhum reconhecimento social. Queriam que eu levasse mais a
sério os rapazinhos ricos, de boa família, que frequentavam a melhor sociedade,
enfim, gente conhecida e, quem sabe, de futuro garantido.
E
eu não conseguia engolir aqueles papos bobos, aquela falta de cultura, aquela
falta de sal. E preferia sempre os que escreviam bem, os que falavam bem, os
que tinham ambição, os que tinham um ideal, os que beijavam bem.
Casei,
aos dezoito anos, com lindos olhos azuis e bela farda. Sendo o pai dos meus
filhos e o avô dos meus netos, está fora de qualquer julgamento.
Agora, com o Facebook, estou tendo a oportunidade de saber por onde andam
aqueles mocinhos que encantaram minha adolescência sem conseguir o aval da
minha família. São hoje renomados advogados, brilhantes políticos, ricos
fazendeiros, executivos bem sucedidos. Eu estava certa. Meu faro era bom. E a
vida é resultado das escolhas que fazemos.
Mas,
o que será mesmo que queria me dizer aquela linda borboleta?!
Um comentário:
Borboletas são sempre um espetáculo muito lindo de se ver... a mistura de cores, a delicadeza... é algo que nos deslumbra sempre.
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