Dia desses, acompanhando despreocupadamente a divulgação dos
aprovados no vestibular e no ENEM, pensava no quanto de alívio sentira quando o
filho caçula fora aprovado. Não que isso tivesse demorado, pelo contrário, o
guri sempre foi “fera”, mas é que eu já vinha sofrendo desde o filho mais
velho, passando pelo do meio, com ele já era a terceira vez, então não queria
mais vivenciar aquela angústia, dedos e olhos apostando corrida no meio das
letras, para ver quem primeiro identificaria o nome deles. Passava pelo nome,
voltava, procurava pelo sobrenome e, quando não estivesse ali, precisava me recuperar
em tempo recorde e assumir logo o papel da motivadora e da esperançosa,
garantindo a eles que no próximo ano o nome com certeza estaria.
A cena vivenciada por alguns desafortunados pais em Santa
Maria, naquele Ginásio de Esportes com as quadras preenchidas pelos lindos
corpos inertes, foi uma chamada às avessas, cada um rezando e suplicando a Deus
que o nome do seu filho, da sua filha, do seu neto, do seu irmão, do seu amigo
não constasse daquela lista macabra, envolta num véu negro de luto e dor.
Quantas vezes aqueles pais ouviram alguém chamar pelo nome
amado e familiar nas formaturas, nos prêmios, nos desfiles e aquilo soava como
mel em seus ouvidos, orgulhosos progenitores do lindo rebento!
Dessa vez era diferente. Cada nome chamado era seguido por
um urro de dor, por um desfalecimento, o sangue fugindo nas veias, o coração
descompassado, as entranhas revoltas pelo sofrimento imensurável. A mãe que
ligou cento e quatro vezes para o celular do filho deveria estar ali...
E a lista só cresce. Como numa segunda chamada da faculdade
que eles iniciavam tão felizes, outros jovens risonhos, festeiros e talentosos
vão se somando aos que jazem no cimento das quadras, sobre lonas pretas.
Como serão tristes as formaturas desses cursos que ali se
representavam para ajuntar dinheiro e comemorar muito no final do curso!
Na lista (mais uma vez ela) de formandos, constarão muitos in memoriam.
Que lástima!
PS.: A tragédia a que me refiro aconteceu na madrugada do
dia 27 de janeiro de 2013, na Boate KISS, na Cidade de Santa Maria , no Rio
Grande do Sul, onde acontecia uma festa de estudantes universitários envolvendo
diversos cursos. E onde para comoção de todos, faleceram no incêndio 233 jovens
entre 16 e 30 anos, além dos que permanecem internados, alguns em estado grave.
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