sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SESSENTA ANOS



Como quase tudo nesta vida, completar 60 anos de idade há de ser diferente para muitas pessoas. Para os homens será de um jeito, para as mulheres de outro; para quem tem saúde será bem diferente do que para aqueles que sofrem com doenças e dores; quem tem uma boa situação financeira sentirá de um jeito e quem vive apertado sem mais chances de deslanchar profissionalmente sentirá de outro; diferente para quem desfruta de uma boa aposentadoria e para quem trabalha para completar a mixaria da Previdência; distinto para quem ajuda a família e para quem nem tem família; para quem vive em paz e para quem vive no olho do furacão; para quem namora, dança, viaja e para quem passa os dias imóvel diante de um aparelho de TV; para quem lê muito, para quem não lê nada, para quem não pode ler, para quem nunca aprendeu a ler.
A verdade é que, a partir de hoje – 9 de novembro de 2012, exatamente às 12h15min – sou uma sexagenária! Fosse escrava, já seria libertada pela Princesa Isabel, antes mesmo da Abolição. E, embora os amigos e parentes mais jovens ou contemporâneos usem e abusem dos eufemismos quando se referem à nossa nova idade, visando minimizar a assustadora inserção no grupo longevo da “terceira idade” (que soa assim como a véspera do fim), vou listar, como sempre faço, algumas características que já percebo nesses tais sessenta anos.
Em primeiro lugar, quem tem bons espelhos, filhos observadores e netos exigentes já terá uma contribuição extra para esse terror senil. Como diz minha amada Bruna: “- Vó, eu acho que tu está ficando um pouco velha.”
Quando a gente chega aos sessenta anos, cada dia, cada mês, cada ano costuma ser um pouco pior que o anterior, em quase todos os sentidos.
Aumentam os defeitos e diminuem os atributos físicos.
Nossa indiferença diante de alguns fatos costuma ser chamada de “paciência”.
Acabamos por nos tornar mais tolerantes, pois desistimos de cobrar e exigir tanto e passamos a utilizar mais o “deixa pra lá”.
Acontece uma fuga em massa dos álbuns de fotografias e mais ainda das fotos com alta resolução, porque, além de nos fazerem constatar a própria decrepitude, nos enchem de saudade de um tempo que não voltará.
Se não desistimos de praticar certas atividades que sempre fizemos, seremos sempre o (a) mais velho (a) da turma, até que nos rendamos à malemolência dos grupos de terceira idade.
Fazer sessenta anos é também saber dos avanços da medicina em busca de remédios e tratamentos para as doenças mais letais, sempre com a ressalva de que estão em “fase de testes” e, portanto, provavelmente não chegaremos a usufruir deles.
É também se tornar cada vez mais seletivo (a) com o tempo, com as leituras, com as conversas, com os programas.
Aos sessenta vamos aumentando o número de remédios e a graduação dos óculos, enquanto o sono diminui – na cama, pois no sofá, diante da TV, ele não demora a chegar.
Ah, você conhece alguém diferente? Pra melhor ou pra pior? São exceções e servem para confirmar a regra. Além disso, nem nossos dedos da mesma mão se parecem!
O bom de tudo isso é que nunca imaginamos ter essa idade com a cabeça, a disposição e a aparência que temos. Sempre imaginamos que os sexagenários fossem assim parentes próximos dos dinossauros.
A verdade é que a envelhescência se assemelha muito com a adolescência, pois num dia nos sentimos lépidos e graciosos e no outro genuínos participantes da idade do condor (dor aqui, dor ali).
Finalmente, porque aqui só quero comentar o básico mesmo, digo que não há como deixar de agradecer a Deus por estarmos vivos, por chegarmos aos sessenta anos com saúde, lucidez e criatividade e também por voltar a ouvir aquela frase deliciosa:
“- Sessenta anos? Não parece!”


3 comentários:

Edson disse...

Maria Luiza,Parabéns p/ seus rasos 60 anos e felicidades.Belo texto, adorei, nunca ri tanto e nunca tive a oportunidade de ler algo que retratasse tão bem a realidade da vida.Eu por exemplo, fui no laboratório fazer exame de sangue, e a enfermeira lendo a minha ficha,perguntou o seguinte: 61 anos, é você mesmo! Eu bem inocente e todo feliz da vida, perguntei por que, e ela, não parece, parece 40!...Forte Abraço.

Anônimo disse...

Concordo com o Lobinho. Parabéns. Elizabete

Ana luiza disse...

Parabéns para nós,"sexagénárias"tbm sou de 1952.é bem esta descrição do texto que passamos.