No mês dedicado às mulheres, toda discussão
relacionada ao ex-sexo frágil parece pertinente.
Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha de São Paulo,
apropria-se de uma citação de Nelson Rodrigues, descontextualizada, para
provocar os leitores, afirmando que “a primeira vocação da mulher é a
prostituição”. Claro que foi apedrejado por cineastas e feministas, com
argumentos de toda ordem e fundamentação.
Passei oito anos da minha vida estudando a
dramaturgia rodriguiana e percebi nela uma atração, um destaque, um
reconhecimento da importância da mulher na família e na sociedade, ainda que
sem grandes aprofundamentos na psique feminina,
elevando a mulher à protagonista de quase todas as suas peças teatrais. A
mulher era seu foco, seu mistério, nunca desvendado totalmente e, por isso
mesmo, elevada à condição mitológica de matriarca arquetípica ou virgem
demoníaca e pura. Ele se referia às atrizes que pediam para fazer o papel da
prostituta na peça “Vestido de Noiva”; penso que se tratava mais da relevância
do papel do que de uma sincera vocação das jovens em questão. Falava
também das mulheres da platéia, que ficavam “tensas de sonho” quando o mito da
prostituta se irradiava pelo palco. Ora, pois, isso bem antes do verdadeiro
ofício das prostitutas ser exaustivamente desmitificado pela mídia, quando
ainda era apenas um terreno proibido às mulheres “sérias”, aquelas que precisavam
concordar em dividir seus namorados e noivos com as outras mulheres cheias de
sedução, em finos cabarés, imigradas da Europa.
Nelson escreveu essas idéias em 1967, Pondé as
ratifica em 2012, obviamente sem autorização do falecido dramaturgo. Aliás, é
muito comum utilizar o nome e idéias esparsas de Nelson sempre que se quer
referir à mulher unicamente como objeto de desejo ou vulgaridade, o que não
corresponde à verdade rodriguiana. Pode até ser um pouco isso, entretanto, é
também muito mais do que isso!
Os homens mudaram, as mulheres mudaram, as famílias
mudaram, a sociedade muda constantemente, logo, imaginar que a mulher, desde o
tempo de Eva até nossos dias, padece da mesma “vocação” para a prostituição é
bem mais leviano do que ingênuo. Sabendo das implicações reais do ofício das
prostitutas, arrisco-me a afirmar que nem as próprias prostitutas gostariam de
sê-lo, a não ser como forma de mercantilismo, ou, em casos mais graves de
latências, traumas, carências, exacerbação libidinosa, enfim, motivos bem
distantes de uma real vocação inerente ao gênero feminino. E não se trata de
puritanismo e, sim, de autenticidade.
Já se questiona, inclusive, se a vocação primeira da
mulher é realmente a maternidade. E por que deverá existir uma vocação inerente
às mulheres como um todo, sabendo das incontáveis diferenças entre as mesmas?
Qual seria a vocação primeira dos homens? Por que
nunca se discute sobre ela?
Respondo. Porque essas perguntas e colocações sobre
as mulheres quase sempre são formuladas por homens, que não as conhecem ou
entendem a fundo e para quem sempre há uma aura de mistério num corpo feminino.
Já as mulheres não se perguntam muito sobre a
natureza masculina, nem formulam hipóteses. Parece que o pouco ou muito que
sabem sobre os homens já lhes basta e não cabem mais averiguações neste
sentido,
Nem santa, nem pecadora, nem mãe, nem prostituta,
penso que a verdadeira vocação da mulher é SER FELIZ! E nessa busca é que ela
se empenha da forma como lhe parecer mais viável.
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