segunda-feira, 5 de março de 2012

NEM SANTA, NEM PROSTITUTA



No mês dedicado às mulheres, toda discussão relacionada ao ex-sexo frágil parece pertinente.
Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha de São Paulo, apropria-se de uma citação de Nelson Rodrigues, descontextualizada, para provocar os leitores, afirmando que “a primeira vocação da mulher é a prostituição”. Claro que foi apedrejado por cineastas e feministas, com argumentos de toda ordem e fundamentação.
Passei oito anos da minha vida estudando a dramaturgia rodriguiana e percebi nela uma atração, um destaque, um reconhecimento da importância da mulher na família e na sociedade, ainda que sem grandes aprofundamentos na psique feminina, elevando a mulher à protagonista de quase todas as suas peças teatrais. A mulher era seu foco, seu mistério, nunca desvendado totalmente e, por isso mesmo, elevada à condição mitológica de matriarca arquetípica ou virgem demoníaca e pura. Ele se referia às atrizes que pediam para fazer o papel da prostituta na peça “Vestido de Noiva”; penso que se tratava mais da relevância do papel do que de uma sincera vocação das jovens em questão. Falava também das mulheres da platéia, que ficavam “tensas de sonho” quando o mito da prostituta se irradiava pelo palco. Ora, pois, isso bem antes do verdadeiro ofício das prostitutas ser exaustivamente desmitificado pela mídia, quando ainda era apenas um terreno proibido às mulheres “sérias”, aquelas que precisavam concordar em dividir seus namorados e noivos com as outras mulheres cheias de sedução, em finos cabarés, imigradas da Europa.
Nelson escreveu essas idéias em 1967, Pondé as ratifica em 2012, obviamente sem autorização do falecido dramaturgo. Aliás, é muito comum utilizar o nome e idéias esparsas de Nelson sempre que se quer referir à mulher unicamente como objeto de desejo ou vulgaridade, o que não corresponde à verdade rodriguiana. Pode até ser um pouco isso, entretanto, é também muito mais do que isso!
Os homens mudaram, as mulheres mudaram, as famílias mudaram, a sociedade muda constantemente, logo, imaginar que a mulher, desde o tempo de Eva até nossos dias, padece da mesma “vocação” para a prostituição é bem mais leviano do que ingênuo. Sabendo das implicações reais do ofício das prostitutas, arrisco-me a afirmar que nem as próprias prostitutas gostariam de sê-lo, a não ser como forma de mercantilismo, ou, em casos mais graves de latências, traumas, carências, exacerbação libidinosa, enfim, motivos bem distantes de uma real vocação inerente ao gênero feminino. E não se trata de puritanismo e, sim, de autenticidade.
Já se questiona, inclusive, se a vocação primeira da mulher é realmente a maternidade. E por que deverá existir uma vocação inerente às mulheres como um todo, sabendo das incontáveis diferenças entre as mesmas?
Qual seria a vocação primeira dos homens? Por que nunca se discute sobre ela?
Respondo. Porque essas perguntas e colocações sobre as mulheres quase sempre são formuladas por homens, que não as conhecem ou entendem a fundo e para quem sempre há uma aura de mistério num corpo feminino.
Já as mulheres não se perguntam muito sobre a natureza masculina, nem formulam hipóteses. Parece que o pouco ou muito que sabem sobre os homens já lhes basta e não cabem mais averiguações neste sentido,
Nem santa, nem pecadora, nem mãe, nem prostituta, penso que a verdadeira vocação da mulher é SER FELIZ! E nessa busca é que ela se empenha da forma como lhe parecer mais viável.




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