sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

VIROSES

     É muito difícil escrever quando estamos doentes. Não sei como tantos moribundos conseguem manter diários de suas penas, ávidamente seguidos por uma legião de sádicos mal disfarçados.
     Cheguei da praia bombardeada, minha netinha também, por uma dessas incontáveis viroses que se espalham por aí. Na verdade, esta eu procurei, pois me dispus a auxiliar uma mãezinha de primeira viagem, desesperada com a virose de sua filhinha de cinco meses. Fui lá, ensinei, ajudei, nanei... e adoeci.
      Estou sempre experimentando nessa área da escritura, de modo que até tentei escrever do jeito que estava me sentindo, mas não consegui. A náusea é que mata a gente. Não dá pra escrever tendo o estômago dentro da boca, encharcado de saliva. Como devem sofrer as pessoas que fazem quimioterapia!
      Por que será que as crianças do meu tempo não tinham "viroses"? As doenças tinham nome e sobrenome e a gente até esperava por elas, pois sabia que não tinha como escapar. - Já tiveste catapora? E sarampo? E rubéola? Quem não tinha tido ainda, sabia que, mais dia menos dia, iria ter. Lembro do meu sarampo até hoje, num calor de novembro, com minha avó passando a cama com ferro quente e me deitando naquele forno,queimando de febre, para o sarampo "brotar". Quantas aulas perdidas, minha mãe buscando os cadernos dos colegas de melhor letra e notas para eu copiar assim que a febre cedia.
     Hoje existe vacina para tudo e as doenças nominadas já estão extintas. Em seu lugar surgiram as "sem nome", aquelas que os médicos não sabem como identificar e se limitam a diagnosticar como "viroses". Vírus sempre existiram, o contágio através dele sempre foi rápido e fulminante, mas agora parece que dominam o rol das doenças, principalmente infantis. Os pediatras que me perdoem, ou me corrijam e esclareçam, acontece que na maioria das vezes que levamos uma criança na consulta o diagnóstico é sempre de "virose".
    Amanheci melhor, ainda fraca mas sem aquela náusea horripilante e resolvi exorcizar os sofridos sintomas fazendo o que mais gosto. Na verdade, quando não consigo escrever é porque estou ruim mesmo. Falar é mais difícil, em qualquer situação, no entanto, com a ponta dos dedos as palavras fluem muito melhor e com mais facilidade.
     Xô virose! Deu pra ti baixo astral!


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