domingo, 26 de junho de 2011

VELHO GOSTA DE BARULHO

            Particularmente, não sou grande apreciadora das "muvucas" geradas pelos encontros familiares. Gosto, mas canso. O esforço para dar atenção a todos, as conversas paralelas, a correria e os gritos da criançada, a cara emburrada de algum, o comentário inadequado de outro, as lembranças nem sempre compartilhadas e registradas de forma diferente em cada cabeça, enfim, um inferno de paraíso!
          É claro que faço questão absoluta de ter os rebentos sob meus olhos, até porque meu mundo só gira porque eles estão nele. A questão é que também aprecio o silêncio, a solidão, a reclusão, o encontro comigo mesma. Poder assistir à novela ou um filme sem barulho ou conversas paralelas não tem preço. Ler, escrever, ouvir música, lembrar, recordar são prazeres dos quais não abro mão.
          Bem, embora seja "envelhescente", ainda não é sobre mim que esse texto vai discorrer. É mais sobre minha mãe e a experiência que tive e tenho com os velhos da minha família.
         Não é verdade que velhos precisem e gostem de silêncio, de tranquilidade, de calma. Pelo menos os velhos saudáveis gostam mesmo é de casa cheia, de várias gerações à sua volta trocando experiências, perguntando como era no "seu tempo", comparando, divertindo-se com sua estupefação diante da modernidade. Na verdade, minha mãe não se surpreende com nada, é mais tolerante e permissiva que eu e parece perfeitamente adaptada ao tempo em que vive. Não recrimina, não prega moralismo, entende os netos em tudo e faz uma parceria interessante com os bisnetos, que a tratam de igual pra igual.
          Quando minha avó e meu pai morreram, minha mãe ficou sozinha no Alegrete e foi adoecendo, definhando, até que fui buscá-la num hospital em Porto Alegre, doente, para viver perto de mim. Diziam que velhos não aceitam mudanças radicais e que sair da casa onde crescera, tivera seus filhos e vivera por oitenta anos seria a morte para ela. Por isso não tivera coragem de trazê-la antes.
            Aqui , cercada de mimos e cuidados por mim, pelos netos e pelos bisnetos, ela foi desabrochando como uma flor de outono, abandonando os remédios, reencontrando o sorriso, devorando livros, cansando os santos de tanto pedir para cada um de seu clã.
             Minha mãe faz questão absoluta de que os almoços, encontros, jantares, cafés sejam todos na sua casa, porque adora ver as pessoas circulando, as crianças brincando, o fogão aceso, a Pitty enroscada aos seus pés e todos falando junto, a pipoca e o pinhão perfumando a casa, o Internacional jogando na TV e todo o barulho que uma família costuma fazer quando se junta.
            Por isso afirmo que velho não gosta de silêncio, de tempo para pensar em tristezas, curtir doenças ou recordar coisas doloridas. Velho gosta é de barulho, de família, de atenção, do oxigênio que os jovens espalham à sua volta e das risadas que sempre os acompanham. É disso que velho gosta!
            Bem, a não ser os velhos casmurros, reclamões, emburrados.
            O que não é o caso da dona Conceição!

             

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