sexta-feira, 20 de agosto de 2010

OS BASTIDORES DA BELEZA

               Sendo mulher, obviamente conheço de sobra as verdadeiras sessões de tortura a que nos submetemos a fim de nos sentirmos melhor e até mais bonitas. Mesmo as "normais", aquelas que fazem a manutenção regular, sem exageros, dos atributos que receberam ao nascer, mesmo essas não sobrevivem sem alguns puxões, horas de cremes e toda uma parafernália para carregar em qualquer viagenzinha.
                A beleza faz bem à alma e aos olhos. Pessoas muito bonitas às vezes deveriam se manter caladas para não estragar os traços perfeitos com conversas vazias. Agora, quando o cristão ou a cristã é lindo (a) de doer e ainda brilhante, simpática(a), inteligente, aí é covardia e injustiça com os demais mortais.
                 Mesmo a natureza, por vezes, se torna linda demais, a ponto de nos faltarem adjetivos para descrevê-la.
              Lá em termas de Jurema a natureza é exuberante e há um reduto de beleza onde  acontece um fato extraordinário. Todas as tardes, por volta das 18h, como se tivessem relógio de pulso, bandos de garças brancas sobrevoam a lagoa, bebem água sempre no mesmo lugar e se acomodam em três árvores, como se fossem enfeites ali dispostos graciosamente. É um quadro de indescritível beleza aquelas três árvores totalmente pintadas de branco num fundo escuro da mata e refletidas no espelho d'água. Da janela do meu quarto podia vê-las e quem está no outro lado do hotel à tardinha se aproxima com máquinas fotográficas, lunetas, filmadoras querendo eternizar aquele quadro de rara beleza e nenhuma influência humana.
                 Pois bem, resolvi ver de perto aquele lugar vazio durante o dia e superlotado à noite. Aluguei um pedalinho e fui andar bem rente à lagoa. Qual não foi minha surpresa ao constatar a devastação causada pelos lindos e delicados pássaros: a ureia contida em seus excrementos está praticamente devastando parte da mata, com árvores que inclusive já tombaram, sufocadas quimicamente pelo que sobra daquela beleza toda.
                   Pois é, feliz de quem tem olhos para admirar as coisas belas do mundo. Ainda que mesmo a beleza tenha seu preço.



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