terça-feira, 12 de abril de 2022

SETE VIDAS

 

                   Não digo sete, que já seria abusar da boa vontade do Criador, mas bem que eu gostaria de ter algumas outras vidas, para dar tempo de fazer e vivenciar coisas com as quais sonhei.

                    - “Por que não fazes agora, estás viva?! ”

                  Não é bem assim. Na juventude temos muitas escolhas (alguns nem isso tem) e traçamos os rumos da nossa vida. Pouca coisa poderá ser mudada, principalmente se constituirmos uma família e tivermos muitas responsabilidades. Claro que tem gente que larga tudo e sai em busca dos seus sonhos, no entanto, isso não serve para quem foi educada pelo seu Ramos.

               A leitura, minha companheira constante, ao mesmo tempo que abre, escancara meus horizontes, acaba também me frustrando, por atiçar em mim desejos de vivenciar outras formas de passar por essa experiência terrena.

                Gosto da minha vida, não viveria sem meus filhos, meus netos e a família toda. O que não me impede de imaginar outras trajetórias, em minhas outras vidas.

               Eu queria saber como é ser concertista, tocar piano com grandes orquestras mundo afora.

                Seria bom ser trapezista de circo!

            Morar numa fazenda bem grande, com muitos animais e plantas, ar puro, vida tranquila. Galopar livremente pelos campos sentindo o vento no rosto.

              Ou trabalhar num escritório moderno, frenético, de Paris ou Nova Iorque, usando terninhos e saltos altos.

                 Ver meus livros espalhados pelo mundo seria bom demais.

                Viajar, conhecer muitos lugares, sendo dona do meu tempo e das minhas decisões.

                Ter uma casa grande, com piscina e um piano de cauda na sala principal.

               Aproveitar a juventude ao máximo, beijar muito, dançar muito, namorar muito, não deixando nada para depois.

                 Seria bom poder visitar todas as belezas do Rio de Janeiro sem medo de assaltos. Gostaria, inclusive, de ter morado lá, onde tudo acontece.

              Em cada vida eu poderia ter nascido num país diferente para sentir a cultura, entender a língua, saber como vivem.

                  Conviver com Sissi, a Imperatriz, pegar uma praia com Leila Diniz, conversar com Fernando Pessoa, fazer parte de Academia Brasileira de Letras no tempo de Machado de Assis, passar uma temporada na casa de Jorge Amado e Zélia Gattai, onde seus belos romances floresceram, trocar uma ideia com Nelson Rodrigues acerca  do que escrevi sobre a dramaturgia  dele em duas teses.

                   Enfim, uma vida parece muito pouco para tanta ânsia de viver e conhecer.

                 Quem sabe meu espírito terá outras chances... vai saber! Por enquanto, melhor curtir bem essa, da melhor maneira, do jeito que der.

                    Tirando a política e a guerra, até que não está tão ruim.


 

 

 

Um comentário:

Afonso disse...

Belíssimo texto! Expressa bem a tua angústia, de forma bem específica, e ao mesmo tempo reflete os anseios de quase toda a Humanidade.