sábado, 26 de março de 2022

POLITICAMENTE (IN) CORRETO

 

                   Minha neta adolescente gosta de ouvir músicas da Jovem Guarda na playlist do meu carro, quando a estou conduzindo às aulas de balé. Suas prediletas são “Banho de Lua” e “Menina Linda”. Músicas que embalaram a minha juventude, cujas letras eu jamais questionei.

                  Pois agora, nessa época em que tudo é politicamente incorreto, reparei na letra da música de “Renato & seus Blue Caps” e concluí que, hoje, eles seriam certamente acusados de pedofilia e coisas piores. Vejam esses versos: “Ah! Deixe essa boneca, faça-me o favor/ Deixe isso tudo e vem brincar de amor. ” E esses outros: “Menina linda eu lhe adoro/ Menina pura como a flor/ Sua boneca vai quebrar/ Mas viverá o nosso amor”.

                Bom, depois que quiseram adulterar a literatura de Monteiro Lobato, pouca coisa me surpreende. Como se pudessem apagar a história e modificar todo um contexto que nem existe mais. Muito mais efetivo é fazer uma leitura crítica, à luz dos novos valores da sociedade e estabelecer parâmetros e comparações, apontando, inclusive, defeitos, mas mantendo o registro da época em que foi escrito. Contrapondo aos textos considerados preconceituosos outros mais atuais, que tratam os preconceitos sob outro prisma. Isso é educar!

              Tudo que é demais, que é imposto, acaba surtindo um efeito muitas vezes contrário ao que se quer alcançar. Hoje, existem leis que punem com rigor quem pratica crimes de racismo e homofobia, entretanto, parece que houve um crescimento exponencial de racistas e homofóbicos. Quem viveu nos “anos dourados” pode afirmar que isso não era tão presente, nem se ouvia falar de linchamentos ou agressões como vemos hoje.

              A criação de termos para designar atos reprováveis, mas que não tinham tanta relevância em outras épocas, não resolveu o problema. O termo “booling”, que nem tem tradução em português, veio criar pânico nas escolas, chegando a causar transtornos imensos nos alunos e até a desistência da escola. E quem de nós já não teve apelidos? Alguns, inclusive pejorativos, se colaram às pessoas e as acompanharam até na vida adulta. Com a repetição, perderam a força e já ninguém relacionava o apelido à carga negativa inicial.

                Atualmente, as pessoas estão até com medo de falar. Digo as pessoas normais, educadas, sensatas. Os casos patológicos, provocados por gente de má índole, merecem mesmo ser punidos exemplarmente. Quanto a esses nem me refiro, porque a justiça é que deve se encarregar deles. Ninguém tem o direito de humilhar, agredir, menosprezar quem quer que seja pela cor da sua pele ou por suas preferências sexuais. Esses casos extremos devem ser tratados com rigor.

                 Já as brincadeiras não deveriam ser tão patrulhadas, tirando a espontaneidade das crianças e dos amigos. Um gordinho, um magrinho, um cabelo feio, um nariz grande, um dente saliente, um pé imenso, sempre vão existir e gerar apelidos na escola. Mas depois passa! Como passou para nós e o que ficou foram as melhores lembranças da “aurora da nossa vida”.

                  Agora, se para alguns essas brincadeiras chegam a desencadear suicídios, talvez seja o caso de atentar para o fato das defesas dos nossos jovens estarem por demais fragilizadas, faltando segurança, amor próprio e respaldo familiar para encarar as provocações e não se deixar abalar tanto por elas.

                  Cada caso é um caso, o importante é que as pessoas saibam respeitar e também não levar tão a sério o que não foi dito com seriedade.


 

 

 

 

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