Não adianta criticar, nem esbravejar. Elas estão aí e só
acabarão quando as novíssimas gerações descobrirem outro canal de comunicação
ainda mais ousado, que as transforme em obsoletas.
Não faz muito tempo que as notícias eram lidas em jornais ou
revistas, escritas por jornalistas e pessoas esclarecidas e com domínio das
regras gramaticais e ortográficas. O máximo de participação popular permitido
era através da seção de Cartas dos Leitores, devidamente resumidas e corrigidas
para se tornarem sucintas e apresentáveis.
Hoje não. Qualquer um pode escrever o que lhe der na telha,
anexando fotos terríveis, num português pra lá de capenga e, inclusive, recheado
de palavras de baixo calão. Pior. Há quem fotografe e compartilhe tais
absurdos, dando ênfase aos erros, às distorções, confundindo ainda mais quem se
dá ao trabalho de lê-las.
Não faz muito tempo que política era discutida nas casas,
nas rodas de amigos, nos bares e restaurantes, na sala de aula, sempre ao vivo,
sempre com réplica e tréplica e, por isso mesmo, de forma muito mais eficiente.
Hoje, cada um escreve a barbaridade que quiser, para seus
mais de mil “amigos” lerem e compartilharem, sem sequer checar as fontes, confirmar
autorias, num vômito de bílis fétido e doentio.
Os grandes escritores e pensadores já falecidos revolvem-se
nas tumbas com tanta bobagem a eles atribuídas!
Os que estão vivos cansam de dizer que nunca escreveram nada
daquilo. Jabor, Veríssimo, Bial, entre tantos outros, já cansaram de desmentir
absurdos atribuídos a eles.
A recém ocorrida eleição presidencial criou rachaduras
inimagináveis entre pessoas que se consideravam amigas e que, mesmo
virtualmente, tinham afinidades.
Por uma manobra cruel e fazendo uso de opiniões de gente
desclassificada, que existe em todos os lados, o povo do Nordeste foi vítima de
declarações ultrajantes, sendo que lá existem pessoas com diversas inclinações
políticas, das mais variadas culturas, como em todo lugar. Somos todos
brasileiros e fazemos questão de sê-lo, apesar dos pesares.
Se fôssemos peneirar tudo o que se disse, se publicou, se
compartilhou nas redes sociais no último mês, pouquíssima coisa ficaria retida
na peneira como aproveitável.
É um uso ineficaz, nefasto e prejudicial das redes sociais.
Uma batalha covarde, tratada sob a proteção da distância e, muitas vezes,
protegida pelo anonimato ou falsos perfis.
Na verdade, o radicalismo de muitos brasileiros impede que
eles ouçam argumentos, impossibilita toda e qualquer averiguação, nega inclusive
o benefício da dúvida. Para eles, as coisas são assim e está acabado. Discutir
pra quê? Com certas cabeças, nem água mole em pedra dura resolve. E toda informação
cai no vazio, uma vez que seu fanatismo rejeita todo e qualquer argumento que
contrarie suas convicções. Nesse caso, pra não entrar no jogo sujo do bate-boca
e das ofensas, o jeito é virar as costas e sair.
Não se deve gastar pólvora à toa, nem jogar palavras ao
vento. Muito menos usar as redes sociais como bucha de canhão, afugentando
todos que procuravam nela outro tipo de contato, uma companhia agradável,
apoio, solidariedade, distração, risadas, afagos.
A continuar neste nível, penso que muita gente boa, que escreve
bem, se expressa com coerência e sabe respeitar os outros, irá se afastar. É
pena, porque, para muitos, foi uma oportunidade ímpar de reencontrar velhos
amigos, conhecer outras pessoas, alargar seus horizontes. No entanto, ninguém
tem prazer em ligar um computador para ver pessoas chafurdando na lama,
gritando impropérios, assassinando a língua mãe.
E, caso isso aconteça, só o eco responderá, com as mesmas
bobagens vociferadas, aos ouvidos de quem se aproveita deste canal de comunicação
para achincalhar os outros.
Sem nível, voltemos aos jornais!
2 comentários:
Eis mais texto perfeito! Estou pensando seriamente em esquecer que as redes sociais existem, mas também penso que foi muito bom reencontrar pessoas, inclusive a esta pessoa que nos brinda com textos maravilhosos... E aí eu retorno!!
As redes sociais, ao meu ver, servem para unir as pessoas (veja nosso caso =D). Só que infelizmente algumas a usam como descarga, literalmente falando.
Uma pena, pois usada de maneira sábia é uma excelente arma contra a "desunião". Bjos
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