Vou ser saudosista sim, as seis décadas que vivi me
autorizam a isso.
As conquistas tecnológicas, as facilidades domésticas, o
leque infindável de opções de lazer, tudo isso já foi cantado em prosa e verso
pelos meios de comunicação. Há, todavia, um lado importante que está sendo
negligenciado, que são os valores eternos, como respeito, afeto, solidariedade.
A Semana da Criança é uma oportunidade magistral de olharmos
com mais atenção para as relações que nossas crianças estão construindo com o
mundo e entre elas mesmas. Por exemplo, como são tratados os brinquedos
adquiridos, cobrados, exigidos, depois que saem da loja e habitam nossas casas?
Diz um jargão popular que “criança precisa de amor e
brinquedo”. E não está muito errado não. É claro que precisa de muitas outras
coisas, mas amor e brinquedo não devem faltar. Os brinquedos são escolhidos
dentre os exaustivamente divulgados pela mídia e logo são esquecidos e jogados
numa pilha de outros com a mesma história. Por que as crianças de hoje não se
afeiçoam mais aos brinquedos, por que as meninas não têm mais uma boneca inseparável
que a acompanhará até a adolescência e às vezes até além? Que relação efêmera é
essa da criança com o brinquedo que desejou tanto e logo se enfastia dele? Não
será uma cópia da transitoriedade do afeto que a criança nutre por quase tudo e
todos hoje em dia? Não serão os familiares e os amigos descartáveis também para
essa criança?
As meninas hoje não possuem “uma” boneca, mas a coleção
inteira delas. Os meninos adquirem todos os super heróis, seus jogos,
acessórios e tudo mais, sem sequer saber o que aqueles personagens – estrangeiros
sempre – fizeram pela humanidade. E nenhum desses brinquedos consegue cativar
verdadeiramente essa criança.
Tive uma boneca que me acompanhou a vida toda, inclusive nas
viagens, e depois veio para a minha casa de recém casada e foi apresentada aos
meus filhos.
Certa vez, quando eu
tinha uns nove anos, tomando café às pressas num hotel de Iraí (estância termal
do RS), saímos correndo para o rodoviária e esquecemos a Margareth (era esse o
nome dela) no refeitório do hotel. Dei-me conta já no ônibus e comuniquei ao
meu pai, de olhos esbugalhados pelo terror de perder minha companheirinha. Pois
meu pai fez o ônibus voltar os quilômetros que andara, como se tivesse deixado
uma netinha para trás. Porque sabia o que ela significava para mim e que não
haveria substituição possível! Era uma boneca comum, rechonchuda, de olhos
azuis, mas morava na minha casa, no meu quarto, na minha vida há muito tempo.
Era minha confidente, irmã e filha e eu não a trocaria por nenhuma outra.
Não consigo imaginar, hoje em dia, uma relação assim das crianças
com seus brinquedos. Quando estragam, vão logo para o lixo, se perdem qualquer
pecinha, já está descartado, enfim, o brinquedo não passa de um entretenimento
temporário e fugaz.
Na minha meninice ainda havia uma Oficina de Brinquedos na
cidade; no tempo da minha mãe elas eram comuns. Para lá eram levadas as bonecas
mimosas, os carrinhos de estimação, os trenzinhos que enguiçavam e as crianças
esperavam, ansiosas, por seu brinquedo de volta, em bom estado, “novinho” outra
vez.
Será que hoje em dia teria sucesso uma oficina assim?!
Dê uma olhada nos brinquedos do seu filho, seu neto, seu
afilhado e na forma como ele interage com eles. E pense bem no que vai lhe dar
de presente no Dia da Criança!
Um comentário:
Pois é ,dar presente no dia da criança,dependendo da idade,escolho sempre o que a criança interage.Nunca dei para filhos,e agora netos,baboseira.Lembro da minha infância,era bambolê,pular corda,brincadeira de roda e por aí vai...Era de eletrônico,nossa,hoje se ve criança que nem sabe ler,de ipod e sei lá o que,jogando sem olhar para o lado.Penso que tudo vem de uma base familiar,depende dos pais .Claro que ninguém quer ver o filho ser o diferente dos outros colegas,mas exagero também tem limite.Ser criança hoje precisa ser um aprendizado de valores.
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