Esta crônica acabou de receber Menção Honrosa no Concurso Buriti 2012, de Rita Velosa.
Quem convive com escritores, músicos, poetas, artistas de maneira geral, tem
uma queixa frequente de que os mesmos se isolam, fogem ao convívio, fecham-se
num mundo à parte.
Não
está de todo errado. Com certeza, esta é uma opção que limita a
convivência, ou a interação, porque é até possível criar entre conversas,
barulhos, etc., mas responder, participar das conversas já se torna mais
difícil.
Talvez este seja um dos motivos pelo qual tantos artistas prefiram a noite, as
madrugadas, ou os alvoreceres para criar. É que a maioria das pessoas está
dormindo e podemos finalmente espreguiçar a alma, de braços e pulmões bem
abertos.
Para quem cultiva algum tipo de arte, seja escrevendo, compondo, tocando algum
instrumento, a paz interior é fundamental, pelo menos uma paz dentro do caos
que permita organizar as idéias, ou os sentimentos e manifestá-los.
Há
que se falar também na necessidade real que os artistas possuem de se
manifestar. Não me considero uma artista, quando muito um aprendiz; agora,
dependendo do nível do estresse ou das dificuldades, sou capaz de enfartar ou
morrer sufocada se não puder escrever. Enquanto não exprimo em letras meus
sentimentos e opiniões não os decifro, nem avalio adequadamente. Costumava
dizer que respirava pela caneta, agora o faço pelo teclado do computador.
Quando toco piano, as mudanças na minha alma são claramente perceptíveis para
quem me conhece ou tem algum poder de observação. Dependendo do meu estado de
espírito escolho a primeira peça. Se estiver romântica ou "zen"
começo por Chopin ou Beethoven; caso contrário prefiro Mozart, Zequinha de
Abreu, Villa Lobos, Tchaikovsky. Depois, vou substituindo as partituras por
outras mais tranquilas, mais expressivas até começar a tocar de ouvido as
músicas de Piaf, evidenciando uma calmaria espiritual. O piano me acalma muito
também.
O que quero evidenciar aqui é que as pessoas que se dedicam, ou necessitam de
alguma forma artística de sobrevivência, nem sempre estão fugindo, ou nem só
estão fugindo, mas estão tentando, mais do que tudo, se encontrar consigo
mesmas. A arte favorece este encontro e aproxima os iguais.
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