quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A MENINA DO “NÃO”




- Não quero!
- Não gosto!
- Não vou!
- Não sei de nada!
Era assim que Bruna experimentava seus poderes.
Gostava de ver a cara dos outros quando caprichava nos seus “nãos”.
- Vamos tomar banho? Convidava a mamãe.
E ela:
- Não!
- Vamos almoçar? Dizia a vovó.
E a pequena teimosa:
- Não quero!
- Bruna, vem comer frutas! Chamava o papai.
E a danadinha gritava:
- Não gosto!
Até a bisavó tentava ajudar:
- Bruninha, vamos brincar de bonecas?
- Não! Não vou brincar disso!
Na escola, a professora avisava:
- Agora está na hora de guardar os brinquedos!
E a pequena teimosa:
Não vou guardar! Quero continuar brincando.
Na aula de balé as colegas pediam:
- Bruna, posso dançar ao teu lado? Vem dançar com a gente!
Mas ela não aceitava o convite:
- Não! Não gosto de dançar com vocês!
Assim passavam os dias, sempre com Bruna teimando e desobedecendo todo mundo só pra ver as pessoas contrariadas, ou bravas com ela.
Um dia... de manhã cedinho Bruna pulou da cama e resolveu dar um passeio sozinha no bosque que ficava perto da sua casa.
Aproveitou que a família estava tomando café na cozinha, abriu a porta devagarzinho e saiu.
Logo avistou um bando de bentevis fazendo algazarra no jardim.
Sua cachorrinha Pitty ficou espiando assustada no portão. Ela então chamou baixinho, pra ninguém escutar:
- Vem Pitty, vamos passear!
A cachorrinha sacudiu a cabeça e entrou em casa, recusando-se a acompanhá-la.
Bruna sacudiu os ombros e pensou:
- Deixa essa boba ficar, eu vou sozinha!
Mais adiante, encontrou seu primo Lucas jogando bola com os amigos e perguntou:
- Quer ir passear no bosque comigo?
E o menino:
- Não! Vou ficar aqui.
Bruna continuou seu passeio em direção ao bosque.
No caminho, viu uma menina comendo algodão doce e se lembrou que não comera nada. Arriscou:
- Me dá um pedacinho? Estou com fome.
E a menina de cara feia:
- Não! É meu.
A pequena teimosa entrou no bosque e caminhou no meio daquelas árvores enormes. Encontrou o parquinho aonde viera tantas vezes com seu pai, mas não achou graça ao sentar no balanço parado.
Avistou uma mulher varrendo e pediu:
- Me embala um pouquinho?
A mulher respondeu:
- Não! Estou ocupada.
Bruna já não estava tão feliz e decidiu voltar para casa. Caminhou para um lado e não achou o portão. Viu um coelho apressado e perguntou:
- Seu Coelho, a saída é por aqui?
E o coelho, sem parar de correr:
- Não!
Um pouco assustada, correu para o outro lado. Ia passando uma tartaruga bem devagar. Com uma voz chorosa Bruna chamou:
- Dona Tartaruga, este é o caminho da saída?
A tartaruga enfiou a cabeça dentro do casco e gritou:
- Não!
Bruna achou que ia chorar. Estava cansada, com fome e com saudade dos seus pais. Enxergou, então, um macaquinho que pulava ligeiro, de galho em galho. Gritou para ele:
- Macaquinho, por favor, me ensina a sair daqui!
E o macaco, balançando nas árvores;
- Não! Não! Não!
A menina então sentou numa pedra e começou a chorar.
De repente, ouviu uma voz que a chamava bem baixinho:
- Bruna! Bruna!
Bruna enxugou os olhos e olhou para o lado de onde vinha a voz.
Uma estrela cheia de brilho estava no gramado e, dentro dela, num lindo vestido rosa, uma fada risonha, com uma varinha de condão, olhava para ela.
- Por que você está chorando? perguntou a voz doce.
- É porque eu quero voltar para a minha casa e não acho a saída, respondeu a menina.
A fada, então, chegou perto dela e disse:
- Você escutou muitos “nãos” por aqui, não é mesmo?
- É, disse Bruna, ninguém quis me ajudar.
- E você ficou triste ouvindo todos aqueles “nãos, com certeza.
- É, fiquei, concordou a pequena.
- Pois é, continuou a fada, é assim que seus pais, sua avó e sua professora ficam quando você diz tantos “nãos” para eles.
- Agora, se você me prometer que vai obedecer e concordar com as pessoas que lhe querem bem, eu ajudo você a voltar para casa.
- Eu prometo! disse a menina.
- Ah, continuou a fada, e não saia mais sozinha! É muito perigoso e seus pais não podem ajudá-la se não souberem onde você está.
Bruna baixou a cabeça envergonhada e pediu novamente:
- Me ajude a voltar para casa, por favor!
A fada, então, sacudiu a varinha fazendo uma nuvem de brilho sobre a cabeça da menina.
- Feche os olhos! Ordenou.
Bruna fechou os olhos e sentiu que estava voando.
Num minuto chegou à sua casa e foi colocada bem em cima da sua cama, antes mesmo de perceberem que ela havia saído.
Em seguida, ouviu a voz da mamãe chamando:
- Bruna, vem tomar café!
- Já vou mamãe!
E o papai perguntando:
- Quer mais um pedaço de bolo?
- Sim papai.
Dali a pouco a vovó chegou e propôs:
- Bruninha, vamos aprender a escrever seu nome?
- Está bem vovó, eu vou!
A família se olhou surpresa, feliz com a mudança na menina e nem percebeu quando Bruna abanou para uma estrelinha brilhante que se afastava no céu.





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