Nas médias e grandes cidades ir ao Centro tornou-se
um suplício!
Lembro de ter lido, há vários anos, que a tendência
era equipar os bairros com tudo o que a população precisasse para evitar os
congestionamentos na região central.
Lembro também do meu estranhamento, quando visitava
minha irmã em Porto
Alegre, ao ver que ela fazia todas as suas compras,
pagamentos, etc. no bairro onde morava. Porque, para mim, não ir ao centro da
cidade era como não ter visitado a mesma.
Hoje, até a outrora pacata e lúdica Florianópolis
virou um inferno na região central, ainda mais na época que antecede a Páscoa,
as datas comemorativas e o Natal.
Quando se precisa enfrentar todas as dificuldades,
quando não há remédio, a gente vai ao Centro. E lá (pelo menos eu) pode-se
observar de perto todo tipo de gente e de comportamento.
Baseando-me
nisso e em muitas observações e conclusões anteriores, posso afirmar que nossa
humanidade encontra-se disposta em círculos,
que giram como anéis uns sobre os outros, sem se tocarem. A emenda de cada um é
feita entre os semelhantes, sem nenhum contato com os demais.
Assim, bem no meio, num anel pequeno, estariam
agrupados os justos, os honestos, os bondosos, os fraternos, os santos.
A seguir, num círculo um pouco maior, estariam os trabalhadores,
os esforçados, os pacíficos, os pacientes.
Numa próxima argola ficariam os bem nascidos, bem
ricos, bem educados, que, como se sabe, não são muitos no mundo todo. Aqueles
que compram jóias caríssimas, viajam de primeira classe, frequentam hotéis e
restaurantes faraônicos, onde uma garrafa de vinho pode custar um mês de
trabalho de um professor. Neste círculo se abrigam, vez por outra, os jogadores
de futebol, alguns políticos e todos os corruptos.
À medida que diminui o poder aquisitivo as argolas
vão-se alargando, porque abarcam mais mortais.
Num grande círculo se encontra a classe média, essa
que vive do seu trabalho, educa seus filhos, sonha com algumas coisas
conquistadas com muito empenho e algum sacrifício e ainda acredita em
liberdade, igualdade e fraternidade.
Por fim, o círculo maior, que envolve os demais,
reunindo muito daquele povo que encontramos nos centros das grandes cidades,
nas favelas e periferias. São os muito pobres, os miseráveis, os colocados no
mundo puramente por irresponsabilidade dos pais e abandonados à própria sorte.
Aqui também costumam se colocar os bandidos, os ladrões, os drogados, os
prostituídos, os malfeitores, aqueles que vivem sem sentido, sem esperança, sem
futuro.
Portanto, penso que a estratificação da humanidade
não se dá em forma de pirâmide e sim de círculos, porque só eles, com sua
incomunicabilidade, podem representar o desenho exato de todos esses seres que
coabitam e convivem na Terra, com diferenças abissais em todos os sentidos,
nascendo e morrendo de formas muito diferentes uns dos outros, tornando-se até
difícil nos considerarmos Irmãos perante o Criador.
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