Sem aviso
prévio fomos encarcerados. E torturados sem dó pelos meios de comunicação.
Cada
um reagiu conforme a sua natureza. Cantando, fazendo piada, ginástica, comidas
ou então apavorados, negativos, depressivos, apocalípticos.
Falam
muito na convivência finalmente próxima de pais e filhos na mesma casa. Nem sempre
harmônica por sinal...
E
esquecem totalmente dos avós, quando muitos deles ajudaram a criar os netos,
tomam conta deles diariamente e, de repente, foram cruelmente afastados e admoestados
de que aqueles anjos que sempre enfeitaram e alegraram sua vida podem agora
lhes trazer o vírus da morte! Nem o maior dos sádicos poderia engendrar castigo
pior aos avós! Como se as chamadinhas de vídeo pudessem compensar o abraço, o
beijo, o aconchego, o cheiro.
As crianças
sentem também. Minha netinha mais nova abraça o celular onde falo com ela e não
o entrega a ninguém, como se assim pudéssemos estar juntas novamente. A mais
velha quer fazer todas as tarefas diante da câmera comigo do outro lado. E só
diz que está morrendo de saudade!
Mas
ninguém fala nos avós, a não ser para mandá-los ficar em casa e bem longe dos
netos. Para quem vê os netos de vez em quando não deve ser difícil, no entanto,
para quem convive diariamente com eles é bem dolorido.
Outra
coisa que falam é que, depois que essa pandemia passar (se é que passará), não
seremos os mesmos, estaremos transformados, o mundo será melhor.
Não
sei se sou cética, descrente ou se sempre soube valorizar o que está sendo
valorizado só agora por muitos: a casa, a família, a fraternidade, a liberdade.
Não
sei se mudarei em alguma coisa, talvez para pior caso perca alguém próximo para
essa peste. Daí certamente serei mais triste, mais infeliz, mais revoltada,
nunca “melhor” como querem nos fazer crer.
Não
acho que merecíamos passar por isso, pelo menos nós, pessoas honestas, trabalhadoras,
amigas. Acho tudo isso muito injusto com a maioria das pessoas.
Os
bandidos talvez merecessem, mas logo esvaziaram as cadeias para não contaminá-los.
Os profissionais
da Saúde não mereciam essa sobrecarga perigosa ameaçando eles e as suas famílias
em casa. Outra crueldade: pais se transformarem em possíveis condutores da
doença e da morte para os filhos. Logo eles que mais amam e mais querem
proteger! Essa pandemia tem requintes de crueldade inimagináveis. Parece um
seriado da Globo! Pois esses profissionais da Saúde foram sempre mal pagos,
atendendo o dobro de pacientes que caberiam nos hospitais, caindo de sono e cansaço
e agora enfrentando um vírus desconhecido e perigoso sem os equipamentos necessários
para se protegerem adequadamente.
Nem
adianta saber de onde se originou o vírus. Deve ter sido de um dos cavaleiros
do Apocalipse.
Quando
tudo isso passar... se passar... queria condecorar quem conseguiu se isolar tanto
tempo entre as quatro paredes de um apartamento, sem uma árvore, sem pássaros,
nem um raio de sol.
Nunca
aprendi com dores e sofrimentos. Sempre preferi aprender e aprendi melhor com
amor, beleza, emoção, carinho.
Certamente
não serei a mesma se sobreviver a isso... um pouco pior talvez.
O
resto é literatura barata.
Nenhum comentário:
Postar um comentário