terça-feira, 17 de julho de 2018

A SIMPLES FELICIDADE



Lembro de um tempo em que bastava ser feriado e não precisar acordar às 6h para ser feliz, virar para o outro lado e dormir de novo.
Quando só de olhar para meus filhos adormecidos em suas camas meu coração ficava aquecido e o resto nem importava.
E como a gente ria, achava graça de tudo, fazia piada com as pequenas coisas.
Tudo que eu fazia na cozinha era gostoso e eles devoravam em um segundo, pródigos em elogios, provando, raspando a forma e as latas de leite condensado, contando historias da escola, dos amigos, de tudo.
A TV só tinha canais abertos, ninguém tinha celular e o computador, ainda em fase inicial, tinha internet discada e só servia para os trabalhos escolares e universitários.
Éramos quatro dividindo um só carro e a prioridade era sempre minha, que trabalhava em dois lugares e vivia correndo. Meus filhos estudaram e se formaram andando de ônibus, nem carona ganhavam porque nossos destinos eram em direção oposta.
Felicidade era ir à praia nos finais de semana, comer camarão, surfar, se inundar de sol e mar.
Bom mesmo era se reunir em volta da mesa, cada um com seus estudos, tão próximos, tão envolvidos, tão em paz. Raramente discutíamos, mesmo assim sempre com diálogo, com firmeza, mas sem gritos nem ofensas. Um cuidando do outro, comemorando as conquistas, se solidarizando nas derrotas, um elo forte que não permitia a nenhum sucumbir.
Essa união criou laços indestrutíveis e até hoje a alegria de um é de todos, bem como estamos sempre unidos nas dificuldades de cada um.
Exatamente como naquelas férias de inverno, quando corríamos para Alegrete e o vô Ramos esperava de madrugada na garagem da Pluma, lá na Cidade Alta, com seu Fiat 147 coberto de geada, um cobertor nas pernas e descia do carro rindo para abraçar seus meninos, aninhá-los no colo, colocá-los aquecidos, tão aquecidos quanto a lareira acesa que nos esperava em casa e a sopa quentinha mantida no fogão a lenha.
Isso era felicidade! Uma felicidade simples, independente de luxos, glórias ou bem materiais. Abraçar a mãe e a avó que esperavam de pé os viajantes, afundar o rosto em seus roupões felpudos e sentir o amor escorrendo pelas paredes e envolvendo cada um até a hora de deitar nas camas arrumadas, com o corpo aquecido e a alma plena.
Sei que meus filhos lembram com carinho de todas as férias que passaram na casa dos avós em Alegrete. Bem como das tantas vezes que eles vieram nos visitar, em todos os aniversários, Dia da Criança, da Mãe, do Pai e sempre que a saudade apertava.
Hoje, minha casa está muito mais bonita, porque pude arrumá-la com tempo e não tem ninguém para desarrumar. Já não tenho tantas despesas com livros, transporte, matrículas, comida e sobraram recursos para enfeitar paredes e móveis.
Agora, eu trocaria tudo isso para poder sorrir um pouco como naquele tempo em que nem cortinas tínhamos, nem lustres e os livros e discos eram o maior enfeite da casa.
A felicidade é simples, não depende de muita coisa, basta um coração leve, um sorriso sincero, um olhar companheiro, uma mão segurando a nossa com firmeza.
Pena que as pessoas imaginem que precisam de tantas coisas para serem felizes, desperdiçando os momentos preciosos em que a felicidade está ali, juntinho delas!





Um comentário:

Unknown disse...

É, Malu...o tempo passou e tantas coisas mudaram. Li teu texto com meu coração saudosista e confesso que chorei. Como eram bons os dias com obrigatoriedades tão diferentes de hoje. Sei que teus filhos guardarão para sempre essas lembranças e repassarao essa alegria a teus netos. Plantaste boas sementes, minha boa amiga. Elas já estão florescendo. Beijos.