Pré-jurássica que sou, pertenço ao grupo
de pessoas (quase em extinção) que pulavam, brincavam o Carnaval durante quatro
noites, usando uma fantasia para cada noite, destruindo os pés, bebendo um
pouquinho a mais, namorando MUITO e tendo assunto com as amigas para vários
meses. Éramos, enfim, participantes das festas de Momo e não meros
espectadores.
Hoje, como a maioria das pessoas, assisto ao Carnaval pela televisão. Isso até
o sono chegar. É bonito, é colorido, ainda mais nesses novos aparelhos de TV em
HD, mas não deixa de ser patético, ainda mais quando assistimos de pijama,
bebericando uma água, um chá ou uma latinha de cerveja, de mau jeito no sofá,
completamente desconectados da festa que passa diante de nossos olhos
sonolentos.
Com a violência das ruas, com a bandidagem à solta, com os pitboys loucos para
esmurrar alguém, quem se atreve a sair para ver blocos ou escolas de samba
"ao vivo"? Poucos.
Sempre estranhei o fato de meus filhos não gostarem de Carnaval, visto que eu
fui uma carnavalesca "de carteirinha" e sempre os levei aos bailes
infantis do Casino, em
Alegrete. Já naquela época eles preferiam catar serpentinas e
confetes do chão, se molhar com as bisnagas de água do que pular, brincar no salão,
andando em círculos como cachorro atrás do rabo. Hoje dou graças a Deus que
eles prefiram surfar a se expor aos perigos da Folia, às tentações, às balas
perdidas, às arruaças, às vinganças dos cornos de plantão, que expõem a mulher
seminua como um troféu e depois ficam provocando cada incauto que ouse
admirá-la.
Carnaval é também sinônimo de arrependimento. Duvido que, ao final, o folião
não tenha um rol de coisas que disse ou fez para arrepender-se. Até porque
aquele frenesi não combina com medida, com cautela, com responsabilidade; o
convite é mesmo para extravasar, extrapolar, viver como se fosse o dia do Juízo
Final. Pena que, para os que sobreviverem, restarão vários juízos, de
diferentes lados, para acusá-lo.
Penso que Carnaval não tem idade, tem jovem que não gosta, tem velho que adora.
Dessa forma, não terá sido meu ingresso nas "cinquentinhas" que me
afastou dos salões e, sim, a decepção com eles, a invasão das drogas, as
arruaças, as inconsequências e os inevitáveis arrependimentos.
Hoje prefiro mergulhar na espuma branquinha do mar dos Ingleses, assistir aos
desfiles só até cansar e, é claro, respeitar quem gosta, quem curte, quem se
esbalda, quem se joga nesta festa que vem desde a Grécia antiga, com as festas
de Baco - o deus do vinho - por ocasião da colheita da uva.
Bom Carnaval a todos, que cada um curta da maneira que melhor lhe aprouver!
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