O que fazem as mães!
Quem me conheceu lá atrás, ainda no Instituto de Educação
“Oswaldo Aranha” e no Orfeão “Carlos Barone”, deve lembrar sempre de uma
menininha de cabelos crespos, saia curta, que declamava em todas as festas,
saudava todas as autoridades, discursava em todas as formaturas.
O que ninguém sabia era o quão penoso aquilo tudo
representava para mim!
Minha mãe querida me rotulara de “desinibida, exibida e
congêneres” quando, na verdade, meu coração sapateava no peito a cada apresentação,
sempre com medo de esquecer parte daqueles poemas imensos, ou errar alguma
rima, ou ainda ter um “branco” e esquecer tudo.
Vocês conseguem imaginar uma criança de nove anos declamando
“Vozes d’África”, de Castro Alves?! Pois eu declamei, várias vezes!
Com dez anos declamava “meus Oito anos”, de Casemiro de
Abreu e não era fácil sentir tanta saudade assim de uma infância que eu ainda
vivia.
No Orfeão, declamei “As cirandas” de Mário Quintana para ele
mesmo, num grande auditório em Porto Alegre, enquanto o Orfeão cantava. Lindo,
mas difícil e emocionante demais para os meus onze anos.
E assim no Baile de Debutantes e até na minha formatura na
Faculdade, quando fui oradora com sete meses de gravidez.
Na verdade, eu não era desinibida, era até tímida, me
soltava no meu grupo, com a minha turma, mas entrava em pânico quando se
acendiam as luzes da ribalta. Sem psicologia alguma, na base do “deixa de
frescura”, venci os medos e enfrentei todos os desafios. Mas sofria...
Anos depois, inconscientemente, estava repetindo a pressão
materna com meu filho caçula. Ele tocava piano muito bem e eu entrei na onda da
sua professora e comecei a levá-lo para concursos até em outros estados. Até o
dia em que ele sentenciou: “– Mãe, um dia eu vou morrer ali naquele palco,
porque meu coração fica saindo pela boca e as minhas mãos suando sem parar.” É
claro que ele não participou mais e ficou tocando apenas em casa, para nós.
Tenho um pouco de bicho de mato até hoje. Adoro escrever, fico super feliz quando me
saio bem nos concursos, ou recebo alguma homenagem, mas na hora de ir receber,
de aparecer, de posar para a foto... queria sumir, vestir um roupão e voltar ao
computador!
Acho que existe uma adrenalina boa e outra nefasta. Essa que
sentimos antes de momentos difíceis não pode fazer bem. É muita angústia para
um efêmero prazer.
O sucesso e o fracasso são extremos igualmente
perturbadores. O segredo está em saber lidar com os dois, impedindo que um suba
demais à cabeça e o que o outro nos arrase completamente. Como tudo na vida,
uma neutralidade, uma medida é sempre a melhor receita.
O problema é que nem sempre a gente consegue!
Nenhum comentário:
Postar um comentário