Neste nosso tempo, quem consegue, ao fim do dia, se recolher
ao seu aconchego e deitar a cabeça no travesseiro em paz, pode se considerar um
sobrevivente. Nunca pensei que um dia chegaria a concluir dessa maneira, pois
vivi grande parte da minha vida numa época em que se pensava sempre à frente,
fazendo planos, sonhando acordada e dormindo, com raros sobressaltos.
Hoje, tudo mudou.
Se moramos no Ocidente, se não estávamos nas Torres Gêmeas
americanas, nem na casa de espetáculos francesa, tampouco nos charmosos bistrôs
parisienses ou na famigerada boate Kiss de Santa Maria, já podemos nos dar por
felizes.
Se não fomos assaltados, se não estávamos nos carros e
ônibus acidentados, se nossos filhos não pilotavam as motos atropeladas, se
nossos netos não sofreram bullying
na escola, ou sequestros relâmpagos, nem foram vítimas de pedófilos, podemos
respirar aliviados... e continuar rezando.
Mais do que nunca, há que se ter fé! Precisamos de alguém
para invocar pedindo proteção, agradecendo por mais um dia, ouvindo nossos
temores. Viver está sendo cada vez mais arriscado.
Além dos maus tratos que os governantes fazem com seu povo,
com os contribuintes, vilipendiados para favorecer suas falcatruas e alimentar
seus bolsos, ainda precisamos ver o estado de decadência galopante das escolas
e hospitais, o crescimento vertiginoso da criminalidade, a carência de
policiais, as cadeias superlotadas e a população refém da bandidagem.
Nem o clima colabora mais conosco, até tornados já começam a
surgir por aqui, rios secando, cidades destruídas por um mar de lama, enchentes
devastadoras, raios, trovões, granizo, ventos calamitosos, enfim, tempos
bicudos esses.
Desemprego, subemprego, gangues de menores drogados,
prostituídos, bandidos vitimando inocentes. Pais que ficam com o coração
apertado cada vez que o filho sai para estudar ou trabalhar, sabendo que o mal
está em cada esquina e fica à espreita, sem que seja possível protegê-lo o
tempo todo, uma vez que nem os pais estão mais seguros, nem a polícia consegue
conter os malfeitores, e, para completar, como se já não houvesse problemas de
sobra para a humanidade, seitas de fanáticos resolvem bancar os justiceiros e dizimar
gente inocente, pela única razão de que eles acreditam em outras coisas e vivem
de outra forma.
Morro de pena do mundo em que meus netos vão viver! Queria
poder melhorá-lo para eles, mas a realidade é que o planeta já foi destruído,
os mares e rios contaminados e as relações humanas nunca foram tão ruins!
Quando criança, a gente só tinha medo do “velho do saco”,
que levava crianças teimosas e que não queriam comer. O resto era liberdade e
brincadeiras.
E hoje? Assustamos essas pobres crianças com tudo! Não
podemos deixar uma menina de sete anos caminhar meia quadra até a padaria, com
medo de que possam sequestrá-la, ou coisa pior. Tudo é perigoso, todos são
bandidos em potencial e os pequenos vivem numa redoma onde o que resta é a
escola (cheia de grades, catracas e seguranças) e os jogos eletrônicos, a TV,
brinquedos caseiros. Até os shoppings já oferecem riscos inimagináveis e os
pais não relaxam mais em lugar algum.
O que nos resta é a fé. É rezar, é invocar a proteção de
todos os santos para nossas famílias, porque, do contrário, o desespero será
ainda maior.
Ao fim de cada dia, certos de que está tudo em ordem e em
paz com os seus, que já estão todos em segurança em suas casas, as pessoas
respiram, suspiram e sobrevivem... por mais um dia!
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