FALSIFICAÇÃO DOS MESTRES

                         Em terra de cego quem tem um olho é rei. Sábio dito popular, como de resto o são todos os criados e proclamados pelo povo.

                         Num país avesso aos livros, quem lê um pouquinho, ou escreve, intitula-se detentor do saber e do direito pelo que os outros escreveram. Não deveria ser assim, mas é assim que é.

                       Quem ocupa altos cargos na esfera política encarregada da cultura e da educação, raramente possui os requisitos básicos para o cargo, inclusive lê muito pouco, ou quase nada. Isso em todos os governos. Os desmandos são flagrantes, alguns hilários até.

                      Agora, a iniciativa do Ministério da Cultura de apoiar e financiar uma escritora de livros infantis na “simplificação” de livros de Machado de Assis e José de Alencar é ultrajante, inadmissível!

                    “O Alienista” de Machado de Assis e “A pata da gazela” de José de Alencar são leituras fáceis e agradáveis que conduzem o leitor, mesmo iniciante, a um patamar superior no trato com a língua. Não possuem neologismos, nem construções difíceis como outros escritores, destinados a um público mais treinado, são excelentes pontos de partida para o mundo das grandes obras em língua portuguesa.

                     Pois uma tal Patrícia Engel Secco, apoiada e financiada com dinheiro público do Ministério da Cultura, foi contratada para “mutilar”- sim mutilar! - essas duas obras e com uma distribuição – pasmem! – de 300 mil exemplares para diversas instituições!

                    Mais uma vez, o dinheiro público, o seu, o meu vai pelo ralo, desta vez locupletando a ignorância e a prepotência de alguém que se julga capaz de bulinar o texto de dois gênios da literatura brasileira.

                    O próximo projeto será, quem sabe, refazer os quadros de Tarsila do Amaral, “corrigindo” as proporções; ou, talvez, substituindo alguns compassos mais difíceis das peças de Villa Lobos, para que os sem talento as possam executar!

                     Não se cansam de nos nivelar por baixo?!

                     Não basta o achatamento dos salários, encostando cada vez mais no salário mínimo dos sem preparo ou especialização em coisa nenhuma, é preciso achatar a cultura também?!

                     “Simplificar” Machado de Assis! Tenham a santa paciência!

                      Não ocorreu a ninguém desse tal Ministério que é muito mais valioso trazer o ignorante até a cultura do que trilhar o caminho inverso?

                      E a pesquisa no dicionário, o aumento do vocabulário, nada disso terá mais valor?

                      Olha, senhores, ai de quem ouse bulinar um texto meu, que sou uma escritora desconhecida e sem importância!

                     Pensei que já tivesse visto tudo...