Sabe, leitor, eu ando preocupada... Porque me vejo ,
cada vez mais, empurrada pelo relógio para tantos compromissos, que não me
sobra quase tempo para fazer o que gosto.
Estou sem tempo para, por exemplo:
-
mastigar
a vida;
-
entender
a morte;
-
curar
as doenças;
-
arrumar
as gavetas;
-
olhar-me
no espelho;
-
saborear
os sucessos;
-
engolir
os fracassos;
-
enfrentar
os dissabores;
-
tocar
piano;
-
ler
e reler os livros;
-
responder
os e-mails;
-
entender
a correria;
-
ficar
feliz;
-
entristecer;
-
chorar
mansamente;
-
sorrir
devagar;
-
ajudar
ao próximo;
-
afastar
o próximo;
-
sentir
saudades;
-
saborear
os encontros;
-
lamentar
os desencontros;
-
ler
todo o jornal;
-
conversar
com os filhos;
-
curtir
o neto;
-
fazer
cafuné;
-
ganhar
carinhos;
-
esperar
a comida esfriar;
-
esquentar
a comida;
-
folhear
os álbuns;
-
vasculhar
os cantos dos armários;
-
consertar
as roupas;
-
experimentar
roupa nova;
-
conversar
com os amigos;
-
telefonar
aos amigos;
-
ajeitar
a casa;
-
fazer
mudas das plantas;
-
ouvir
o canário cantar;
-
rezar
por tanta gente;
-
acender
as velas;
-
fazer
maquilagem;
-
retirar
bem a maquilagem;
-
conversar
com os vizinhos;
-
brincar
com o cachorro;
-
seguir
a receita do prato caprichado;
-
viajar
ao sul e ao norte;
-
rever
todas as pessoas queridas;
-
participar
dos eventos;
-
dar
comida aos peixinhos;
-
matear
solita, cismando;
-
escolher,
com calma, os produtos no supermercado;
-
namorar
o marido;
-
VIVER!
Por isso, quero fazer um apelo ao Lula. Por favor,
Presidente, deixe-me aposentar! Há uma
“vida” me esperando e não por muito tempo. Tenho 50 anos (idade linda!!!,
redondinha ...literalmente), trabalho desde jovenzinha e não sou culpada pela fome no mundo, já que meu salário é tão
pouquinho. Só queria um pouco mais de tempo para fazer essas coisinhas que,
juntas, dão sentido à vida da gente.
Deixa, vai!
Florianópolis,
agosto de 2003.
Hoje, 11 anos depois, continuo sem tempo, embora aposentada.
Minha rotina mudou; ao invés de tantos alunos tenho duas netas lindas que dependem do meu tempo e uma mãe maravilhosamente idosa que também precisa de mim.
No entanto, já dizia Gabriela Mistral, "toda a natureza é um serviço/ serve a nuvem/ serve o vento/ serve a chuva" ...
E serve a Maria Luiza também!
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