A necessidade do uso da língua passa pela função
básica da comunicação entre os seres humanos. Mais do que o guarda-roupa ou a
conta bancária nivela as pessoas, estabelecendo relações que ultrapassam as
meramente físicas. A "conversa" entre pessoas que usam códigos
diferenciados para se comunicar não se estende por muito tempo, logo se criam
lacunas difíceis de preencher. Daí a busca por seus "pares", por
aquelas pessoas cujo emprego da língua obedece a padrões semelhantes. Os olhos
falam, sem dúvida, a mímica também ajuda, entretanto, chega um momento em que
se quer "dizer" e "ouvir" alguma coisa, o que não é o mesmo
que "falar" e "escutar".
Ler e escrever. Objetivos primordiais de toda a
instrução escolar e que se deveriam manter ao longo da existência. O estudante
não lê e escreve mal, quando escreve. Opera o computador, realiza cálculos
difíceis, decora infinidades de nomes, fórmulas e conceitos, freqüenta aulas de
inglês desde pequeno, mas se atrapalha todo no Português, que não é uma língua
fácil, possui mais exceções do que regras e uma ortografia complicada. No
entanto, é a língua oficial do Brasil e espera-se que os brasileiros dela façam
(bom) uso para se comunicar.
É na Universidade que se solidificam os conhecimentos,
até mesmo porque, nela, o estudante já tem uma consciência mais plena do que
precisa e pretende em sua vida profissional. Pois bem, excetuando os cursos de
Letras e alguns poucos dos quais a disciplina de Português figura nos
currículos apenas em um semestre, a grande maioria dos acadêmicos não terá mais
contato com a língua-pátria.
O resultado está aí. Só não vê quem não quer, ou não
tem também conhecimentos suficientes para perceber as verdadeiras aberrações
que profissionais das mais diversas áreas cometem em nosso pobre vernáculo.
Médicos que titubeiam na hora de preencher um atestado, engenheiros aos
tropeções nas cedilhas e dois esses, técnicos das mais diversas áreas engolindo
acentos e salpicando vírgulas como se fosse orégano... que desalento!
Na alta competitividade do mercado de trabalho, a
fluência no inglês tem sido prioritária. O profissional recém formado que não
souber se expressar na língua de Shakespeare encontrará muitas portas fechadas,
ainda que possua redação própria e uma cultura geral razoável. Depois, saberá
ler com perfeição os manuais de produtos importados e pedirá socorro na hora de
enviar um simples ofício a alguém.
Tecnologia de ponta, experiências nucleares,
informatização irrestrita, tudo muito válido e importante, se for apoiado numa
cultura mais ampla, que englobe a vida como um todo e estabeleça relações de
solidariedade e parceria com seus semelhantes. Caso contrário, meros robôs
programados para atuar em determinada área e totalmente despreparados para a
complexidade desta existência terrena.
Além da competição instaurada (e estimulada!) entre os
profissionais da mesma área de atuação, nota-se, nas grandes Universidades, certo
menosprezo para com os cursos de Educação, motivado pelos baixos salários
injustamente pagos a estes profissionais - como se construir uma ponte fosse
mais importante do que formar uma turma de quarenta crianças ou adolescentes!
Só que os cursos que preparam professores costumam dar
grande realce à língua materna e, nos contatos interpessoais que se estabelecem
na vida pós-universitária, os alunos de Letras destacam-se dos demais na
intimidade que adquiriram com a palavra escrita.
Profissionais competentes, reconhecidos em seu meio,
respeitados - leiam! A boa leitura elucidará dúvidas ortográficas e gramaticais
e possibilitará uma maior desenvoltura na hora de redigir. Sempre é tempo de
resgatar o velho e bom Português!
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