Se você me amasse, como pai, como
filho, como amante, como amigo, como irmão, certamente saberia que meu retrato
mais fiel encontra-se nas entrelinhas do que escrevo e me leria sempre, cada
vez mais, relendo até entender, saboreando minhas palavras como quem degusta um
champanhe ou um manjar dos deuses. Decifraria minhas reticências como aqueles
beijos crescentes que antecipam o amor. Não viveria sem procurar saber do
estado de espírito em que me encontro apenas pelos textos que escrevo, ou pela
ausência deles.
Se
você me amasse divulgaria minha literatura aos quatro ventos, sabendo que é
disso que me alimento e que não existe elogio que me toque mais fundo do que
aqueles dados aos textos que produzo, sejam eles curtos, médios, longos, muito
longos ou de um laconismo enervante.
Se
você me amasse faria com que meu blog tivesse muitos seguidores, para que não
ficasse humilhado diante dos milhares que qualquer celebridade instantânea tem.
Se
você me amasse "de verdade" não teria vergonha de deixar seu
comentário, ou preguiça de copiar meia dúzia de letrinhas numa linha.
Se
você me amasse "mesmo" saberia que as conversas telefônicas não me
satisfazem e que é por aqui que prefiro me comunicar.
Como
saber qual o texto que mais gostou, que tipo de assunto prefere, que conclusões
tirou, que texto lhe surpreendeu desagradavelmente se você não me diz?!
Olha,
é para você que escrevo e seu silêncio tem um efeito negativo sobre a minha
criatividade. Você há de crer que eu tinha mais retorno dos leitores quando
escrevia para jornal? Sem internet, sem e-mails, nada?! Pois é, as pessoas me
mandavam recados, telefonavam, falavam para os meus parentes e eu sabia que
tinha acertado o tom e a abordagem. Se escrevesse só para mim continuaria
treinando meus contos e logo iniciando o romance, cada vez mais distanciada
daqui.
Eu adoro escrever! Eu escrevo para ser lida! Eu preciso saber a opinião das
pessoas que me lêem!
Mas isso, só se você me amasse...
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