Como quase tudo
nesta vida, completar 60 anos de idade há de ser diferente para muitas pessoas.
Para os homens será de um jeito, para as mulheres de outro; para quem tem saúde
será bem diferente do que para aqueles que sofrem com doenças e dores; quem tem
uma boa situação financeira sentirá de um jeito e quem vive apertado sem mais
chances de deslanchar profissionalmente sentirá de outro; diferente para quem
desfruta de uma boa aposentadoria e para quem trabalha para completar a mixaria
da Previdência; distinto para quem ajuda a família e para quem nem tem família;
para quem vive em paz e para quem vive no olho do furacão; para quem namora,
dança, viaja e para quem passa os dias imóvel diante de um aparelho de TV; para
quem lê muito, para quem não lê nada, para quem não pode ler, para quem nunca
aprendeu a ler.
A verdade é
que, a partir de hoje – 9 de novembro de 2012, exatamente às 12h15min – sou uma
sexagenária! Fosse escrava, já seria libertada pela Princesa Isabel, antes
mesmo da Abolição. E, embora os amigos e parentes mais jovens ou contemporâneos
usem e abusem dos eufemismos quando se referem à nossa nova idade, visando
minimizar a assustadora inserção no grupo longevo da “terceira idade” (que soa
assim como a véspera do fim), vou listar, como sempre faço, algumas
características que já percebo nesses tais sessenta anos.
Em primeiro
lugar, quem tem bons espelhos, filhos observadores e netos exigentes já terá uma
contribuição extra para esse terror senil. Como diz minha amada Bruna: “- Vó,
eu acho que tu está ficando um pouco velha.”
Quando a gente
chega aos sessenta anos, cada dia, cada mês, cada ano costuma ser um pouco pior
que o anterior, em quase todos os sentidos.
Aumentam os
defeitos e diminuem os atributos físicos.
Nossa
indiferença diante de alguns fatos costuma ser chamada de “paciência”.
Acabamos por
nos tornar mais tolerantes, pois desistimos de cobrar e exigir tanto e passamos
a utilizar mais o “deixa pra lá”.
Acontece uma
fuga em massa dos álbuns de fotografias e mais ainda das fotos com alta
resolução, porque, além de nos fazerem constatar a própria decrepitude, nos
enchem de saudade de um tempo que não voltará.
Se não
desistimos de praticar certas atividades que sempre fizemos, seremos sempre o
(a) mais velho (a) da turma, até que nos rendamos à malemolência dos grupos de
terceira idade.
Fazer sessenta
anos é também saber dos avanços da medicina em busca de remédios e tratamentos
para as doenças mais letais, sempre com a ressalva de que estão em “fase de
testes” e, portanto, provavelmente não chegaremos a usufruir deles.
É também se
tornar cada vez mais seletivo (a) com o tempo, com as leituras, com as
conversas, com os programas.
Aos sessenta
vamos aumentando o número de remédios e a graduação dos óculos, enquanto o sono
diminui – na cama, pois no sofá, diante da TV, ele não demora a chegar.
Ah, você
conhece alguém diferente? Pra melhor ou pra pior? São exceções e servem para
confirmar a regra. Além disso, nem nossos dedos da mesma mão se parecem!
O bom de tudo
isso é que nunca imaginamos ter essa idade com a cabeça, a disposição e a aparência
que temos. Sempre imaginamos que os sexagenários fossem assim parentes próximos
dos dinossauros.
A verdade é que
a envelhescência se assemelha muito com a adolescência, pois num dia nos sentimos
lépidos e graciosos e no outro genuínos participantes da idade do condor (dor
aqui, dor ali).
Finalmente,
porque aqui só quero comentar o básico mesmo, digo que não há como deixar de
agradecer a Deus por estarmos vivos, por chegarmos aos sessenta anos com saúde,
lucidez e criatividade e também por voltar a ouvir aquela frase deliciosa:
“- Sessenta anos? Não parece!”
3 comentários:
Maria Luiza,Parabéns p/ seus rasos 60 anos e felicidades.Belo texto, adorei, nunca ri tanto e nunca tive a oportunidade de ler algo que retratasse tão bem a realidade da vida.Eu por exemplo, fui no laboratório fazer exame de sangue, e a enfermeira lendo a minha ficha,perguntou o seguinte: 61 anos, é você mesmo! Eu bem inocente e todo feliz da vida, perguntei por que, e ela, não parece, parece 40!...Forte Abraço.
Concordo com o Lobinho. Parabéns. Elizabete
Parabéns para nós,"sexagénárias"tbm sou de 1952.é bem esta descrição do texto que passamos.
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