Dizem que sou saudosista. Talvez seja. Gosto de lembrar das
coisas boas, estejam elas no tempo em que estiverem. Já as más bloqueio logo e
nunca mais quero lembrar.
Também não me considero apegada aos bens materiais, entretanto,
tenho um apego diferente pelos objetos que fizeram parte da minha vida. Até
para trocar de carro é necessário um verdadeiro mutirão familiar e vou, de
coração partido, entregar o antigo para trocar pelo novo.
Meu piano, que fica na casa da minha mãe, foi atacado
cruelmente pelos cupins e está condenado. Ganhei um novo, mas quem diz que
consigo me desfazer do velho?
Agora, resolvi ajeitar este quarto, que já foi de dois dos
meus filhos, para que se transforme num escritório e quarto de hóspedes
eventual. Depois que eles saíram de casa, um porque casou, outro porque foi
trabalhar fora, aos poucos fui me ajeitando por aqui, trazendo meus tesouros,
meus livros, meu computador e é aqui que passo as melhores horas do meu dia.
Pois bem, um projeto mais moderno e funcional dispensou o
grande armário que mandei fazer para eles há bastante tempo, daqueles de
madeira grossa, puxadores firmes que resistiram aos netos sem se mexer e ainda
uma escrivaninha embutida onde filhos e netos estudaram para tantas provas.
“É só um armário” – repito para mim mesma, no entanto, olho
para ele e revejo os meninos, suas roupas, seus jogos eletrônicos, seus livros...
Daqui a pouco os homens chegam para desmontá-lo. Doei para
uma mãe pobre que não tem onde guardar as roupas dos seus meninos que ainda
estão em casa. Que sejam bem felizes com ele, o tratem bem e aproveitem um móvel
feito com capricho por um carpinteiro que trabalhava sozinho, me deixava pagar
em suaves prestações e cujos móveis têm a solidez de um mundo perdido, de
coisas duradouras, ao invés dos tempos descartáveis de agora.
Não quero vê-lo ser partido em pedaços, nem levado embora.
Pior foi ver meus meninos arrumarem suas roupas para partir.
Daqui a pouco estará tudo novo, tudo bonito e o velho
armário ficará guardado no baú das recordações, cada vez mais cheio e mais precioso.
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