Durante as comemorações
do Dia Internacional da Mulher, cabe-me, como mulher e ser pensante, analisar
um pouco a condição feminina e as razões para que se crie um dia, mais à guisa
de alerta do que de homenagem, dedicado ao “sexo frágil”.
Como mudou o papel da
mulher na sociedade através dos tempos! Mais do que todos, foi a mulher quem
melhor espelhou a evolução e/ou o retrocesso da humanidade.
Matriarca, escrava,
subjugada e submissa, rebelada, emancipada, exagerada, confusa... MULHER.
Não foi pequena a
discriminação sofrida pelas mulheres no século passado e estendida até meados
do atual, permanecendo intacta até hoje em alguns recantos deste Brasilzão e na
cabeça de muitos homens e até mulheres com estreita visão de mundo.
Algumas artistas, poucas
escritoras, certas cantoras e duas ou três coristas ainda conseguiram
perpetuar-se na história, possibilitando que se resgate seu valor. E as
anônimas e servis esposas, que se limitaram a ficar “atrás de um grande homem”?
Sumiram na poeira do tempo, uma vez que “do pó vieram e ao pó voltaram” sem
chegar sequer a se materializar.
Mulheres eram dadas em
casamento a desconhecidos, humilhadas caso não conseguissem marido ou parindo
filhos incessantemente até perderem a saúde.
Quantas mulheres precisaram
sofrer, desafiar, se rebelar, protestar para que hoje possamos atuar na vida
como protagonistas e não apenas espiando das coxias?!
Quantos pais precisaram
ser enfrentados, quantos maridos tiveram que capitular até que os novos homens
fossem educados por essas novas mulheres e passassem a respeitá-las?!
É preciso que se lembre
que a passagem da condição feminina subalterna para esta de “quase”
equivalência não foi amena, tampouco rápida. As meninas, moças e mulheres de
hoje não devem esquecer as pequenas e grandes lutas de bravas mulheres que as
precederam para que elas pudessem, agora, viver sem medo, com perspectivas, com
direitos, com dignidade.
Penso que, em nossos
dias, temos duas categorias básicas de mulheres (com “n” subgrupos em cada uma
delas): a da mulher substantivo – aquela da dupla ou tripla jornada de
trabalho, da marmita preparada antes do sol nascer, do arrimo de família e a
mulher adjetivo – aquela dos cremes e perfumes, do consumismo desenfreado, da
escravidão estética, da alienação. Como muitas coisas na vida, o ideal seria
buscar o meio termo, unir a fragilidade à força, a doçura à determinação, sem
violentar a sua natureza, mas tampouco fazendo dela uma bandeira de
inutilidade.
Para ter valor é preciso
que a mulher se valorize, não tentando se igualar aos homens, pois as
diferenças entre os dois sexos é que os aproxima e forma aquela parceria
deliciosa a que chamamos casal. O importante é ser respeitada como o homem o é,
como um ser humano dotado de inteligência e ideias próprias e não como sua
escrava, nem sua sombra; afinal, em muitos casos, a sombra então seria maior do
que aquilo que reflete...
Mais feminina do que
feminista, a mulher de hoje tem bandeiras mais importantes a levantar do que
queimar sutiãs em praça pública ou alardear aos quatro ventos que sabe trocar o
pneu furado do carro ou a lâmpada que queimou. E é importante ressaltar que o
“machismo” partiu das próprias mulheres, que educaram seus filhos homens como
“seres superiores”.
A tendência da inversão
de papéis também é improdutiva e vazia, já que os homens não trabalharão
menstruados, nem grávidos (pelo menos por enquanto), tampouco amamentarão seus
filhos. A negação da maternidade, a rejeição ao fogão, com o recorrente chavão
vazio de “eu não sei fritar um ovo!” não habilitam esta nova mulher para
exercer outras funções. É preciso mais! É preciso que ela seja efetivamente um
ser pensante, participativo, idealista, empreendedor, fraterno, como a maioria
dos homens procura ser há bem mais tempo.
Se há alguma bandeira
feminina a ser levantada deve ser a favor da mulher pobre, desinformada,
abusada pelos patrões e pelo marido, discriminada pelo número de filhos que
coloca no mundo por ignorância, mesmo que passe a vida se responsabilizando por
eles e tentando lhes dar uma condição melhor. A favor também das mutiladas em
rituais de fanáticos, das espancadas, estupradas e mortas por homens
pervertidos e acobertados por uma falsa moral.
Que a sociedade ampare e
promova estas mulheres – substantivo concreto e invariável – para que não seja
mais preciso criar um dia de conscientização mundial, como este oito de março!
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