Penso que inadaptados são todos aqueles que vivem
resmungando contra a modernidade, os comportamentos, as músicas, a forma de
vida, tudo que acontece nos dias atuais e comparando com os do “seu tempo”.
É claro que o melhor tempo para cada pessoa é o tempo em que
ela é mais feliz e isso acontece com mais facilidade na infância, na juventude,
numa época recheada de planos e sonhos. No entanto, mesmo dentro dessa turma,
há os inadaptados, que assimilaram completamente as recordações e os
comentários dos pais e não conseguem usufruir da própria atualidade.
Inadaptação é mais do que uma questão de gosto, corriqueira
em todas as épocas. Mesmo os irmãos gêmeos podem ter gosto musical, artístico,
social diferente e se comportar de forma diversa. Isso não é inadaptação.
Acho que as pessoas deveriam se esforçar mais para entender
os novos tempos, novos costumes, para não virarem um poço de crítica constante
e uma rabugice só.
É claro que valores, educação, cultura são atemporais e
devem ser mantidos para viabilizar a vida em sociedade.
Agora, quando meu pai dizia que cantor era o Vicente
Celestino e ameaçava jogar todos os meus discos da Jovem Guarda no lixo, ele
demonstrava uma feroz inadaptação à juventude dos filhos. Ainda bem que na
música clássica, na Ópera nos entendíamos. Já a minha mãe se apaixonou por
Roberto Carlos e Julio Iglesias junto comigo e com minhas amigas, quem sabe
pelo fato de ser obrigada (ela adorava!) a nos acompanhar em todas as festas e
bailes.
Inadaptadas também são as mães que se vestem iguais às
filhas e resolvem posar de “melhor amiga” da filha adolescente, “curtindo” tudo
junto e deixando a pobre menina morta de constrangimento.
Não quero passar receita de nada, tampouco dizer o que é
certo ou errado. Cada um sabe de si. Meu objetivo é refletir sobre o que é ser
inadaptado ao seu mundo e a reflexão surgiu a partir da patrulha veemente que
os mais velhos fazem sobre o uso indiscriminado e exagerado dos aparelhos
eletrônicos, celulares, smartphones, redes sociais, etc., pelos jovens
principalmente.
É o mundo deles, o tempo deles, os costumes deles.
Certamente irá passar, sofrer transformações, se modificar, quiçá girando ao
encontro de tempos idos, assim como faz a moda, mas agora é tempo perdido vociferar
constantemente contra eles. Como são
jovens, saudáveis, bonitos, esse tempo se cristalizará na sua memória como o
melhor de todos, não tem jeito! Sempre foi assim e assim será.
Agora, eu também me considero um tanto quanto inadaptada à
“envelhescência” e volta e meia me pego praguejando contra os defeitos físicos
e as limitações que vão surgindo e se acentuando a cada dia.
O jeito é viver com as boas recordações, tolerando os
arroubos dos que ainda viveram tão pouco e, se possível, sonhando um pouquinho
mais, pois a Europa vai continuar lá e eu ainda quero ver tanta coisa...
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