A mulher, figura de tão controvertida
postura e inegável importância, vive em constante mutação através das décadas.
Sendo mulher já do fim do século XX e
vivendo, como tantas, esse tipo de vida e liberdade conquistado a duras penas -
falando alto, de cabeça erguida, mas tão cansada... decidi parar um pouco e
refletir sobre o que fomos, somos e seremos.
Não tendo filhas, apenas meninos,
egoisticamente tenho me preocupado menos com o futuro do "sexo frágil, tão
forte".
Tive uma avó dinâmica, que batalhou ao
lado do meu avô, mesmo sem sair de casa para trabalhar. Minha mãe sempre
trabalhou fora e eu, é claro, já fiz faculdade trabalhando. Nem mesmo os filhos
me impediram de cumprir meu lado profissional.
Nas horas de maior atropelo, onde
horários e compromissos não se afinam, não posso deixar de pensar nas mulheres
de antigamente, tão bitoladas e restritas, mas talvez bem mais espertas que
nós. Fingindo resignação com a condição de inferioridade, aproveitavam para se
cuidar, descansar, ler, dançar e esperar os maridos cheirosas e faceiras, sem
preocupações, nem trabalhos para terminar em casa.
Os homens de hoje até aceitaram muito
bem a nossa emancipação que, no final das contas, só lhes trouxe benefícios.
Engordamos (embora só um pouquinho) o orçamento doméstico, dividimos despesas
até em restaurantes e temos "vergonha" de lhes pedir dinheiro.
Excluindo uma minoria que divide "numa boa" as tarefas domésticas,
outra pequena porção que cumpre sua parte a contragosto, a maioria dos homens
não faz "serviço de mulher, porque não tem jeito para isso".
O que sobra, então, para essa nova
mulher tão emancipada, batalhadora, profissional? O jeito é conciliar, da
maneira que conseguir, o trabalho com a casa, o marido e os filhos. Fazer
verdadeira ginástica para arranjar uma boa empregada, que também seja uma
profissional consciente e dê migalhas de amor a seus filhos sempre carentes.
Nas grandes cidades, de manhãzinha,
vemos aquelas mães de semblante fechado, tristes, entregando seus filhinhos
sonolentos nas creches e saindo, circunspectas
É injusto exigir-se da mulher uma
duplicidade de ação, um desmembramento da sua personalidade e da sua
resistência, quando o homem, sempre beneficiado, assiste a tudo de camarote.
Iludem-se as independentes moças
solteiras, tão livres e profissionais, que com elas será diferente. Esperem até
virem os filhos. Na primeira febre deles, quem faltará ao emprego? A mãe, é
claro, já que o seu emprego não tem quase importância e ela ganha tão pouco que
mal dá para pagar a empregada. Quem ajudará as crianças nas tarefas escolares e
fará os maiores sacrifícios para conseguir chegar, mesmo atrasada, às reuniões
da escola deles?
Estou vendo os fatos sem óculos
cor-de-rosa, embora não ache que devamos regredir. O que precisamos não é levantar bandeiras feministas e, sim, com a
malícia e astúcia das nossas antepassadas, formarmos o "novo homem".
(escrito em 1985 e tão atual...)
2 comentários:
Passaram 30 anos, as mulheres não formataram um novo homem, optaram (a maioria) pela solução mais simples: não ter filhos. :)
Passarão mais 30 anos e a mulher correrá o risco de ter sua evolução protelada, mais uma vez. Há o descaso dos governantes que não se preocupam com o justo salário, há a prepotência do homem, há o domínio desse porque usa da força física para exigir subserviência, há a continuidade do mantenedor do lar, do chefe absoluto, quando esse é melhor remunerado, há o desrespeito para com a mulher e a mania de v}ê-la como fêmea reprodutora. E no Oriente há os crimes que tomam proporções gigantescas,ainda nesse século.
Mas, apesar de tudo, o homem está nas trevas e a mulher está tentando iluminar o caminho, como sempre fez.
Apreciei o texto e será sempre atual em sua argumentação bem feita.
Parabéns!
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