Amanhecer lentamente, acordando cada parte do corpo devagar,
deixando a mente espreguiçar bem vazia depois de horas e horas de um sono
reparador, com sonhos lindos, temperatura agradável, lenços macios e
perfumados.
Escorregar preguiçosa pela cama, alongando pernas e braços,
num meio sorriso de quem não tem horário, nem agenda e pode dormir quanto
queira e comer o que desejar, na hora em que sentir fome.
Num dia um mergulho na piscina, noutro imersão na espuma da
banheira, ou uma ducha farta e um roupão felpudo sobre o corpo úmido que vai
terminar de acordar na rede, absorvendo a energia do sol e das flores, ouvindo
os pássaros, saboreando a doçura das frutas da estação.
Bem mais tarde um
passeio a cavalo, sem destino certo, pelos campos, sob as árvores, ao longo dos
riachos.
Cabeça serena, livre de pensamentos e reflexões, somente
existindo.
Um conto, um poema, um romance, o dedilhar no teclado, o
passo de dança, assim sem compromisso, sem pressa, acontecendo apenas.
Nada de notícias, nem boas, nem más. Nada de compras, de
pagamentos, de supermercado, de bancos, de telefonemas. Nada.
Nenhuma ingratidão, nenhum problema, nenhuma discussão,
nenhum pedido, nenhuma cara, nem feia, nem bonita.
Reconciliação total consigo, passado enterrado, futuro incerto
e não sabido, presente saboreado.
Cheiro de temperos, ervas em profusão, nada de carne, de
sangue, de bichos.
Aroma de café, de alfazema, de pão assando, de jasmim.
O dia acontecendo lentamente, naturalmente, numa interação
primordial com a natureza, planta e corpo desabrochando para a vida, sem
interrupções.
Nenhuma dor, nenhuma angústia, nenhuma ansiedade, nenhuma
cobrança, temor algum.
Apenas existindo.
Até a lua esconder o sol e corpo e mente voltarem a
descansar por oito, nove, dez horas ininterruptas, sem sobressaltos ou
pesadelos, num sono de criança, como todos deveriam ter se o mundo e as outras
pessoas não os atropelassem.
É sonho, mas poderia ser verdade.
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