Hoje quero falar de AMOR.
Amor lembra flores, cartas, beijos,
poemas, luares, promessas, saudades.
Há uma poeta portuguesa, do início do
século XX, que viveu pouco (apenas trinta e seis anos), mas amou muito (teve
três maridos) e sofreu muito por amor também.
Florbela
Espanca, como muitos
escritores consagrados, só foi lida e reconhecida depois de morta, pois,
enquanto viveu, precisou bancar a edição de seus livros e recebeu dois tipos de
crítica, ambas funestas para um autor: elogios vagos, superficiais,
benevolentes ou uma crítica depreciativa, preconceituosa, apoiada apenas em
valores morais e/ou religiosos, pouco relacionados com a verdadeira literatura.
Além da condição feminina (até então
pouco abordada), Florbela usou a dor como
matéria-prima capaz de criar e transfigurar o mundo.
Sobretudo a morte do irmão, a quem devotava
enorme afeto, fez com que ela vivesse atormentada, com os nervos em frangalhos,
fazendo uso de remédios para dormir, dos quais se valeu também para morrer.
Sua biografia conturbada é facilmente associável
à sua obra, numa justificativa sem bases.
Ela dizia: “Eu sou hoje o que fui sempre
(...) uma figueira nunca poderá dar rosas.”
Rebelde, irreverente, avessa à
publicidade, à glória, à crítica, aos jornalistas, sem editor, sem dinheiro,
orgulhosa, quem melhor pode falar de Florbela Espanca é ela mesma, através de
seus poemas.
Selecionei um dos meus preferidos para
compartilhar com vocês.
Espero que gostem e que leiam mais
esta poeta notável, nascida em Portugal – Vila Viçosa, a 8 de dezembro de 1894
e que decidiu encerrar sua existência no dia do seu aniversário, quando
completava trinta e seis anos, a 8 de
dezembro de 1930.
Escreve-me...
Escreve-me! Ainda que
seja só
Uma palavra, uma palavra
apenas,
Suave como o teu nome e
casta
Como um perfume casto
d’açucenas!
Escreve-me! Há tanto, há
tanto tempo
Que te não vejo, amor!
Meu coração
Morreu, já e no mundo
aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase
d’oração
“Amo-te!” cinco letras
pequeninas,
Folhas leves e tenras de
boninas,
Um poema d’amor e
felicidade!
Não queres mandar-me
esta palavra apenas?
Olha, manda então...
brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de
saudade...
27/04/1916
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